A Ilha de Páscoa é pequena. O território chileno, que fica a 3.700 km do continente, no Oceano Pacífico, tem o formato de um triângulo, com 24 km de comprimento (no lado mais longo) e 21 km e 12 km (nos outros dois), soma aproximadamente 170 km² de área, onde vivem hoje cerca de 3.800 pessoas. Esta ilha é famosa por abrigar mais de 800 esculturas monumentais de pedra, em formas humanas, as chamadas moais, construídas pelo povo Rapa Nui há séculos. O turismo é sua principal atividade econômica. Todo ano mais de 100.000 visitam a ilha para ver suas estátuas enigmáticas.
Há, porém, outro elemento misterioso, ou no mínimo curioso, que é a quantidade de Suzuki Jimny que circula pela ilha. O jipinho é o veículo mais popular entre os cerca 3.000 automóveis e comerciais leves existentes. Não há contagem oficial, mas os Jimny, de todas as gerações, estão por toda parte. A maioria circula sem o estepe na tampa traseira, o que, a princípio, também pode intrigar o turista mais observador, mas tem explicação.
“Esses são de moradores da ilha. Em algum momento, o sujeito usou o pneu reserva e nunca mais comprou outro”, diz a chilena Alma Amira, que administra um hotel na ilha. Ela também tem um Jimny, 2018, mas o dela tem estepe. Os Jimny em melhor estado de conservação, com estepe (e todas as peças), pertencem às locadoras.

Pneus são valorizados em Páscoa. O atendente Gabriel Rojas, da locadora de veículos Insular, explica por quê: “Eles custam caro na ilha e demoraram para chegar”, podendo vir apenas de avião ou em navios que a cada duas semanas trazem alimentos.
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Alugamos dois Jimny, um 2016 e outro 2017, em períodos separados. Nas duas oportunidades, ouvimos a mesma recomendação: “Cuidado com os pneus, tem muitos buracos na estrada”. A locadora chama esses modelos mais antigos de “básicos”. A diária sai por 60.000 pesos chilenos (R$ 362). Os Jimny mais modernos, de 2023, por exemplo, são classificados como “premium”e custam 100.000 pesos (R$ 603). Para alugar basta ter habilitação de motorista e cartão de crédito.

Quanto aos buracos, realmente, todo o cuidado é pouco. A Ilha de Páscoa possui cerca de 100 km de estradas. Alguns trechos têm asfalto, como no centro comercial de Hanga Roa e nas vias que levam aos principais pontos históricos, mas a maior parte é de terra. Há incontáveis buracos ao longo do percurso, inclusive nas áreas pavimentadas. E também muitas vacas soltas e cavalos selvagens no lado oeste da ilha. Não se vê fiscalização de trânsito, nem semáforos. A velocidade máxima na região é de 60 km/h.
Dirigir na ilha exige atenção, pois a paisagem é impressionante. As estradas que acompanham a orla passam por várias ruínas de ahus, as plataformas dos moais construídas perto do mar. Estátuas caídas também surgem pelo interior da ilha. É difícil não olhar, mas qualquer distração pode levar a topar com um buraco. Por isso, o melhor é parar o carro para observar. Placas indicam até onde é permitido se aproximar das estruturas.

Estrada dos moais
As estradas não contornam todo o arquipélago. Em vez disso, há vias separadas para cada lado da ilha e outra pelo centro. Ao sul, os motoristas podem chegar de carro até o topo do vulcão Rano Kau. Na parte oeste da ilha, ficam os ahus restaurados Hanga Piko e Hanga Kio’e. No lado leste, diversas ruínas espalham-se pelo caminho e, ao norte, está o Tongariki, a maior estrutura da ilha, com 15 estátuas. Mais alguns quilômetros, chega-se à bela praia de Anakena, com seus dois ahus restaurados e os resquícios de um terceiro. Existe até um observatório espacial que pertenceu à Agência Espacial Norte-Americana (Nasa), abandonado no centro da ilha.
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Esses são os principais locais onde o acesso de carro é liberado sem a exigência do ingresso do parque nacional Rapa Nui. Cada ingresso custa 80 dólares (cerca de R$ 470). Sem esse tíquete, os turistas não podem se aproximar das atrações nem mesmo vê-las de longe, pois as estradas de acesso ficam fechadas. Esse é o caso do caminho para o vulcão Rano Raraku, a pedreira onde o povo Rapa Nui esculpia os moais, e a ruína do ahu Akahanga, onde, segundo a tradição local, foi sepultado o primeiro rei Rapa Nui. A visita a esses locais ocorre apenas com a presença de um guia autorizado. Agências de turismo têm diversos pacotes com passeios por vários desses pontos históricos.

Em nosso roteiro, começamos com três dias de passeios de carro seguido de um dia de excursão de ônibus nos locais de acesso restrito. No dia anterior à volta, alugamos outro Jimny, o modelo 2017, e refizemos o caminho até a praia de Anakena. No total, rodamos cerca de 100 km pela ilha com os dois carros. A parte mecânica do primeiro Jimny estava em ordem, mas o interior era bastante desgastado. O odômetro marcava quase 100.000 km e quando o carro passava dos 50 km/h, o volante começava a trepidar.

O segundo modelo, alugado com 80.000 km, estava melhor, mas também parecia desalinhado. Em trechos off-road, o sistema de tração 4×4 dos dois carros funcionou normalmente. “Todos os carros da Ilha de Páscoa têm algum probleminha”, revelou o funcionário da Insular. “Mas o Jimny é muito resistente, por isso temos tantos.” O jipinho também é econômico e isso foi ótimo na hora de abastecer antes da devolução. O litro da gasolina custava 1.380 pesos (R$ 8,46) no único posto da ilha. A conta de combustível com os dois carros ficou em 22.000 pesos (R$ 135).
A Ilha de Páscoa não tem transporte público e existem poucos táxis, que ficam concentrados no aeroporto (Aeroporto Internacional Mataveri) durante os horários de chegada dos voos. Também não existe Uber ou outros serviços de carro por aplicativo. Com o veículo alugado o turista tem autonomia completa na ilha, ainda mais dirigindo um Jimny com tração 4×4. E fica a dica: à noite, vale pegar o jipinho e ir até um local afastado da iluminação do centro urbano para observar o céu limpo e estrelado como em poucos lugares no mundo.