Os títulos com remuneração prefixada são considerados os mais arriscados da renda fixa. Isto porque o investidor trava sua remuneração em um patamar que pode ser superado em pouco tempo ou até não ser suficiente para garantir retorno acima da inflação. Porém, a última reunião do Comitê de Política Monetária do Banco Central (Copom) nessa quarta (7) pode fazer os investidores mudarem de ideia sobre a classe.
O Copom decidiu elevar a Selic para 14,75%, no nível previsto por agentes do mercado para o encerramento de 2025. No último Boletim Focus, a projeção para os juros básicos, que era de 15% desde 3 de janeiro, recuou para 14,75%. O ciclo de cortes na Selic está, portanto, em um horizonte próximo.
Mas o que isto tem a ver com os prefixados? Em relatório, a XP Investimentos explica que “os títulos prefixados podem oferecer oportunidades interessantes de retorno, especialmente quando há uma maior clareza sobre estarmos próximos a um ciclo de corte de juros”.

O Tesouro Prefixado 2035 pagava 13,89% ao ano no fechamento dessa quarta-feira. Se a taxa recuar a partir de hoje e atingir 13%, por exemplo, até o fim do ano, quem comprou o papel antes terá na carteira um título que rende mais do que o mercado oferece e poderá carregar a boa rentabilidade até o vencimento ou até ter lucro na venda antecipada.
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Ou seja, com o mercado enxergando – e precificando – o ciclo de cortes começando ainda este ano ou no início de 2026, os prefixados podem ser interessantes para garantir rentabilidade acima do que será oferecido daqui a alguns meses. “Respeitando o percentual de exposição à classe de ativos dentro do portfólio e a diversificação entre emissores e prazos, é uma oportunidade para investir com taxas bastante interessantes”, diz Luise Coutinho, head de produtos e alocação da HCI Advisors.
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Ian Lima, gestor de renda fixa da Inter Asset, diz que “quando um ciclo de aperto termina, chega o momento dos prefixados”. No entanto, ele pondera que “é sempre recomendada uma composição mista de prefixados e títulos de inflação. Ele diz que os prefixados são mais rápidos em gerar ganho de capital nos ciclos de queda dos juros, mas os papéis de inflação cumprem uma função relevante de proteção do portfólio.
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Analisando títulos do Tesouro emitidos e vencidos entre 2006 e 2024, a XP observou que prefixados levados até o vencimento superaram o CDI 72% das vezes. Porém, no mesmo relatório, o time de renda fixa mostra que o retorno é acompanhado de volatilidade, risco de perda da rentabilidade caso a inflação dispare e do perigo da marcação a mercado, que pode trazer prejuízo para quem pretende vender o título antes do vencimento.
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Não à toa, são títulos do Tesouro IPCA+ (2029 e 2030) que compõem a carteira de renda fixa da XP para maio. “Em nosso cenário base, a inflação deve permanecer acima da meta do Banco Central nos próximos anos. Enxergamos ser importante manter parcela de ativos atrelados à inflação para proteção contra seu efeito ao longo do tempo, considerando especialmente a imprevisibilidade em relação à sua trajetória em prazos mais longos”.
Se o investidor aproveitar o juro real elevado – o Tesouro IPCA+ tem taxas a partir de 7,05% acima da inflação – e mantiver o papel até o vencimento, os papéis de inflação “são um dos melhores veículos para preservar o poder de compra ao longo do tempo com retornos consistentes”, segundo Coutinho.
Já a aplicação mais segura do Brasil, o Tesouro Selic, “tende a ficar atrasada ou render menos na comparação com prefixados e de inflação”, segundo Lima, da Inter Asset. Mesmo assim, considerando a importância da diversificação do portfólio, Coutinho diz que “investir no Tesouro Selic é uma forma de acompanhar esse movimento (de alta dos juros) com a menor exposição a risco, podendo ser utilizado para reserva de emergência, objetivos de curto prazo ou proteção para os investidores que são mais conservadores e que possuem baixa tolerância a risco”.
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Crédito privado
Marianne Moraes, gestora de crédito privado, FI-Infra e Fiagro da Inter Asset, diz que, mesmo já esperada, a alta da Selic para 14,75% ao ano traz efeitos para o mercado de crédito privado. Um deles, segundo a especialista, é a melhora no carrego de fundos de crédito posicionados majoritariamente em pós-fixados.
Para a gestora, os FIDCs (Fundos de Investimento em Direitos Creditórios) “oferecem uma relação entre risco e retorno bem atraente neste cenário de spreads (prêmios na comparação com títulos públicos) comprimidos, com uma remuneração adicional pela estrutura, oferecendo mecanismos de proteção que permitem acompanhar mensalmente o comportamento do portfólio”. Moraes ainda destaca as debêntures incentivadas por conta do cenário de juros altos e benefício da isenção de Imposto de Renda.
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Ao comprar títulos de dívida das empresas, os investidores devem tomar cuidado com prazos muito longos, recomenda Gianluca Di Mattina, analista da Hike Capital. Ele argumenta que o mercado precifica juros elevados em um horizonte relevante e “o prêmio por alongar prazos não compensa os riscos”. O ideal, em sua visão, é manter parte da carteira em ativos com alta qualidade de crédito e vencimento em 2 a 4 anos, o que “permite aproveitar possíveis oportunidades e mudanças econômicas”.
Por outro lado, os spreads apertados e a relação ruim entre risco e retorno afastam Ricardo Schweitzer, sócio da Garoa Wealth Management, do crédito privado: “Nas atuais circunstâncias, preferimos privilegiar títulos públicos e alocar o estoque de risco de nossos clientes em ativos com melhor relação entre risco e retorno.” Schweitzer defende que “grande parte das melhores oportunidades são encarteiradas por institucionais e sequer chegam aos investidores individuais”.