São Paulo — Phelipe de Moura Ferreira, de 26 anos, fez uma transmissão em seu perfil no Instagram nesse domingo (16/2), relatando as agressões e torturas que sofreu enquanto esteve refém no Mianmar. Ele foi vítima de tráfico humano e permaneceu em cativeiro no país asiático, sendo obrigado a aplicar golpes cibernéticos, até fugir entre os dias 8 e 9 de fevereiro.
“Tentei fazer o máximo para não ser agredido”, disse o jovem. Apesar disso, ele relata ter sido espancado cerca de 20 vezes, sempre com cassetete. O homem mostrou as marcas que ficaram em seu corpo. Veja:
Ele também foi punido por não bater as metas diárias estipuladas pelos sequestradores. Por isso, precisou fazer até 500 agachamentos em uma superfície com objetos pontiagudos, como pregos.
Ao Metrópoles, o pai de Phelipe, Antônio Carlos Ferreira, detalhou as agressões sofridas pelo filho durante o cárcere em Mianmar – e relatadas a ele pelo jovem nos momentos de distração dos criminosos.
“Quando eles não atingiam a minha testa, eles eram espancados, levavam paulada, choque, eles eram eletrocutados, essas marcas no corpo deles é tudo isso aí, consequência de paulada, choque, chute, tá? Eles levavam choque”, disse.
Na transmissão ao vivo, Phelipe contou que a primeira agressão que viu foi de um imigrante etíope. Segundo ele, pessoas dessa nacionalidade eram as que mais apanhavam. “Eu ouvi uns barulhos, mas não sabia que era espancamento”, conta.




Ele e o também brasileiro Luckas “Kim” Viana eram obrigados a aplicar golpes cibernéticos.
Reprodução Instagram/@lipemf_r
Phelipe foi vítima de tráfico humano no Mianmar, país asiático, e passou três meses em cativeiro.
Reprodução Instagram/@lipemf_r
Ele sofreu hematomas nos braços e nas pernas, conforme mostrou em live no Instagram.
Reprodução Instagram/@lipemf_r
Phelipe conta que foi espancado cerca de 20 vezes, sempre com cassetetes.
Reprodução Instagram/@lipemf_r
Durante as agressões, para abafar o som das torturas, os criminosos colocavam música chinesa em volume alto, e levavam as vítimas a um espaço chamado de “blackroom”. Lá, além dos cassetetes, também usavam armas de eletrochoque.
Mesmo com o teor e frequência das torturas, Phelipe conta não ter ficado sabendo de mortes enquanto esteve no local.
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Resistência e fuga de brasileiros
Segundo o jovem, além dele, havia apenas um brasileiro em cativeiro neste mesmo complexo em Mianmar: Luckas “Kim” Viana. Phelipe disse que, quando ficou sabendo que o compatriota estava no mesmo local, entendeu que era vítima de tráfico humano. Isso porque, dias antes, ele havia lido uma reportagem sobre o caso do paulista de 31 anos.
Luckas foi levado refém no início de outubro passado. Phelipe foi sequestrado e levado ao mesmo local no fim de novembro.
“Eu tinha visto a reportagem do Luckas, mas não achei que iria pro mesmo lugar”, disse.
A dupla não podia conversar ou sequer ter contato, mas tentava alguma comunicação sempre que podiam.
Os dois, junto de mais vítimas, organizaram uma fuga para o dia 31 de dezembro, que não aconteceu pela proximidade de militares do local. Tentaram novamente no Ano Novo Chinês, em 28 de janeiro, mas não tinham companheiros o suficiente para correr do cativeiro.
Em uma das tentativas de fuga, em um grupo de 45 pessoas, apenas três quenianos conseguiram fugir. Os demais foram levados de volta ao cativeiro, onde foram amarrados e torturados.
Finalmente, entre os dias 8 e 9 de fevereiro, os brasileiros conseguiram fugir. Eles tiveram ajuda da organização não-governamental (ONG) The Exodus Road, que combate tráfico humano em todo o mundo.
“Não me importei de deixar nada pra trás, o mais importante foi salvar minha vida”, contou Phelipe, que disse ter deixado roupas, celular e outros pertences pessoais no cativeiro. Em seguida, ele foi levado para uma base militar em Mianmar.
Depois da fuga, 13 vítimas continuaram no cativeiro, disse o jovem, que está atualmente em um hotel em Bangkok, na Tailândia, aguardando o trâmite necessário para retornar ao Brasil.
Na transmissão ao vivo, o jovem se negou a responder perguntas sobre Luckas, segundo ele, a pedido do próprio, que ainda não estaria confortável a falar sobre o que passaram em Mianmar.
Ao Metrópoles, a mãe de Luckas, Cleide Viana, disse estar se sentindo melhor agora que sabe que o filho está em segurança.