Apenas três das 25 escolas da rede municipal de São Paulo que terão seus diretores afastados estão entre as 25 unidades com pior desempenho da capital paulista quando consideradas as metas de cada colégio no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb).
O dado faz parte de um levantamento feito pela Rede Escola Pública e Universidade (Repu), que cruzou informações sobre as notas de cada escola no Ideb, com as metas esperadas para elas. O estudo também comparou os valores obtidos no Índice de Desenvolvimento da Educação Paulistana (Idep) e as metas para as escolas no indicador.
A comparação com base no Idep mostrou que 44% das escolas com diretores afastados estão entre as 50% melhores da rede em relação às metas para os anos finais do ensino fundamental.
As informações mostram uma contradição entre o discurso adotado pela Prefeitura de São Paulo e os números atingidos pelas escolas nas provas que medem a qualidade do ensino.
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Estudantes em escola municipal de São Paulo
Divulgação / Prefeitura de São Paulo2 de 12
Sala de aula de escola municipal
Divulgação / Prefeitura de São Paulo3 de 12
Alunos observam professora em escola municipal
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Millie Bobby Brown em visita a uma escola de SP
Unicef/Divulgação6 de 12
Trata-se de uma ação do Unicef
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A atriz britânica esteve na Emef Professora Olinda Menezes Serra Vidal
Unicef/Divulgação8 de 12
Ela surpreendeu as crianças
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Sala de aula E.E. Louis Braille
Jéssica Bernardo/Metrópoles10 de 12
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Governo de SP/Divulgação12 de 12
DAJ/Getty
A gestão Ricardo Nunes (MDB) tem afirmado que as escolas cujos diretores passarão por requalificação foram escolhidas de acordo com o desempenho obtido no Ideb e Idep de 2023.
Em nota enviada ao Metrópoles na semana passada, a Secretaria Municipal de Educação afirmou que havia considerado as metas previstas para cada unidade nestes indicadores.
Ainda assim, o levantamento mostra que entre as escolas selecionadas há, inclusive, uma das poucas unidades que atingiram a meta esperada para sua unidade no Ideb nos anos finais.
CEU Antonio Carlos Rocha
- O CEU EMEF Antonio Carlos Rocha, localizado na Vila Moreira, zona leste da cidade, teve 4,6 no Ideb, atingindo exatamente o que era esperado para a unidade nesta etapa de ensino.
- Nos anos iniciais, a unidade ficou abaixo da meta do Ideb, mas ainda assim ocupa a posição de número 141 entre as escolas da rede municipal, em um ranking onde o número 1 é a escola mais distante de atingir a meta. Ou seja, o CEU está 116 posições melhor que as 25 com piores resultados em relação à meta estabelecida.
- No Idep, o CEU EMEF Antonio Carlos Rocha também está ainda acima da média da rede e ficou na posição 493.
O estudo destaca ainda que nenhuma das 25 escolas escolhidas estão sempre entre as piores da rede com relação ao atingimento das metas do Ideb e do Idep. “Se isso eventualmente ocorre para as metas do Ideb 2023, não ocorre para as do Idep 2023; se ocorre para os Anos Iniciais do Ensino Fundamental, não ocorre para os Anos Finais”, afirma a nota técnica da REPU.
Parte das escolas selecionadas pela Prefeitura para serem alvo do projeto de requalificação não teve nota do Ideb calculada por não terem atingido o número mínimo de alunos presentes no dia em que a avaliação foi realizada.
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Leonardo Crochik, professor do Instituto Federal de São Paulo e um dos autores da nota técnica, afirma, no entanto, que o problema não é exclusivo às 25 escolas. “Das 560 escolas da rede com oferta nos anos iniciais e 551 nos anos finais, há 104 escolas sem nota nos anos iniciais e 221 sem nota nos anos finais”, explica.
O professor diz que os dados, como um todo, mostram que a Prefeitura de São Paulo não se baseou em critérios exclusivamente técnicos para tomar a decisão de afastar os 25 diretores.
“A gente vê que os índices estão sendo usados só como uma retórica. Eles não serviram para a prefeitura escolher as escolas, eles servem para a prefeitura buscar justificar uma ação arbitrária”, diz Leonardo.
O Metrópoles pediu nota de posicionamento para a Prefeitura de São Paulo, mas não foi respondido até a publicação deste texto.
Entenda o caso
- A Prefeitura de São Paulo determinou o afastamento de 25 diretores de escolas municipais por causa do desempenho dos alunos em indicadores de educação. Os profissionais foram informados da medida no dia 22 de março.
- Eles trabalham em unidades de tempo integral e estão há pelo menos quatro anos na função, segundo a secretaria.
- A gestão Ricardo Nunes (MDB) alega que os profissionais passarão por uma “requalificação intensiva do Programa Juntos pela Aprendizagem”, criado em abril deste ano com o objetivo de melhorar os indicadores da rede.
- A medida é adotada depois que os baixos indicadores da prefeitura na Educação viraram alvo de críticas durante a campanha de Nunes, em 2024, e ameaçaram a continuidade de Fernando Padula à frente da pasta.
Na semana passada, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) solicitou à Secretaria Municipal de Educação que explicasse os motivos dos afastamentos. No despacho, enviado para a SME, a promotora questiona, entre outros detalhes, se os profissionais afastados tiveram a oportunidade de fazer uso do contraditório e direito à ampla defesa.
A gestão Nunes respondeu aos questionamentos na sexta-feira (30/5) e disse que não se tratava de um afastamento, mas sim de uma convocação. A promotora responsável pelo caso, no entanto, entendeu a convocação é um afastamento de fato, porque obriga os diretores a ficarem fora de suas unidades por toda a semana, exceto sexta-feira.
“Apesar de não haver ato formal de afastamento, os diretores estarão quatro dias por semana fora de suas unidades, impossibilitados, portanto, de exercer a gestão. Isso requer maiores explicações da Secretaria Municipal de Educação”, afirmou, em nota, o MPSP.
A decisão de afastar os diretores têm sido criticada por professores que atuam nestas unidades. Eles alegam que a medida foi tomada sem considerar a realidade destas escolas que atendem territórios vulneráveis e têm projetos de destaque na inclusão de alunos.
Uma das unidades impactadas, a EMEF Espaço de Bitita já foi premiada por seus projetos pedagógicos.
Nesta segunda-feira (2/6), os diretores abandonaram uma reunião com a secretária executiva da Educação para falar sobre a requalificação, alegando que a gestão não estava aberta ao diálogo e não permitiu a entrada no encontro de supervisores.