São Paulo – O oitavo título da história da Rosas de Ouro no Carnaval de São Paulo veio na última nota, do último quesito, e fez a presidente da escola, Angelina Basílio, chorar, se emocionar e ressaltar, em cada entrevista, a origem de sua agremiação. “Aqui é Brasilândia, porra!”, gritou inúmeras vezes, sempre que abordada para falar sobre a satisfação pela conquista, a primeira em 15 anos.
O grito de Angelina também é uma forma de responder à provocação feita por muitos à Rosas, de que seria uma escola mais elitizada, com sua sede social na vizinha Freguesia do Ó desde 1979. A “Roseira” faz questão de reforçar onde estão suas antigas raízes, embora não desmereça onde também floresceu.
“A Brasilândia é onde a Rosas de Ouro nasceu, é a essência da Rosas de Ouro. A gente não pode esquecer a nossa ancestralidade. A Rosas de Ouro nasceu na Brasilândia. Alô, Brasilândia, eu nasci na Brasilândia, nasci na Estrada do Sabão! Tô muito feliz, muito feliz!”, disse.
A Brasilândia é um dos bairros mais pobres de São Paulo, sempre lembrado no ranking de desigualdade social da capital paulista. Foi lá que o pai de Angelina, Eduardo Basílio, fundou com amigos a escola de samba, a partir da batucada que acompanhava um time de várzea chamado Glorioso da Brasilândia.
Questionada sobre a volta por cima, depois de quase ter caído para o Grupo de Acesso em 2024, Angelina ressaltou que foi necessário muito trabalho e persistência para virar o jogo. E disse isso em tom de afirmação, como se respondesse a críticas que tenha recebido em algum momento. “A Rosas de Ouro é uma grande escola de samba de São Paulo, tradicionalíssima.”


A presidente da Rosas de Ouro, Angelina Basílio, no Sambódromo do Anhembi, em São Paulo
William Cardoso/Metrópoles
A presidente da Rosas de Ouro, Angelina Basílio
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Ao fundo, a presidente da Rosas de Ouro, Angelina Basílio
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Integrantes da Rosas de Ouro durante a comemoração do título pelo Carnaval de São Paulo em 2025
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Integrantes da Rosas de Ouro durante a comemoração do título pelo Carnaval de São Paulo em 2025
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A presidente da Rosas de Ouro, Angelina Basílio
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A presidente agradeceu à diretoria, ao vice-presidente Osmar Costa, à comissão de Carnaval e fez questão de ressaltar a presença da comunidade no desfile. “A comunidade que fez o projeto ‘Sou Roseira’. Meus filhos da Roseira, depois de 15 anos, não é fácil. Foi uma apuração sofrida, no último quesito que definiu a Rosas de Ouro.”
Tensão até o final
De fato, até o penúltimo quesito, as atenções no Sambódromo estavam voltadas para a Acadêmicos do Tatuapé, vizinha de mesas durante a apuração. Com a sequência de notas negativas da adversária, os integrantes da Rosas começaram a ver desabrochar a esperança de ficar com o título. A tensão era grande. “Eu não tomo cerveja. Tomei dois copos achando que era Coca-Cola, relaxei”, disse Angelina.
Quando o enredo “Rosas de Ouro em uma Grande Jogada” foi anunciado, parte da comunidade do samba pensou imediatamente que se tratava do patrocínio de alguma bet à agremiação. “Não, a gente pensou em fazer diferente de tudo. A história dos jogos desde a antiguidade, passando pela Grécia, enfim, e deu muito certo, chegando até os dias de hoje, com os games. As crianças ficaram fascinadas com o último setor”, disse a presidente. “Eram jogos que remetiam a um amor à infância”, afirmou.
Angelina afirma que vê o futuro do samba paulistano disputadíssimo. “Ponto a ponto. Você vê que nesse 2025, eu nem acreditava. Iria levantar e, no último quesito, da última nota, a Rosas de Ouro sagrou-se campeã.”
O Carnaval de São Paulo é disputado ponto a ponto, mas não falta também cordialidade entre as escolas rivais, tanto que a apuração transcorreu tensa e emocionante, mas sem qualquer hostilidade, como ocorria no passado.
Logo após a vitória, Angelina recebeu os abraços fortes de Solange Cruz, presidente da Mocidade Alegre e outra referência grande referência feminina do samba paulistano, e de Eduardo Santos, presidente da Acadêmicos de Tatuapé.