Moradores de bairros da zona leste de São Paulo têm entrado em pânico com o surgimento de aranhas de grande porte em casas e condomínios, principalmente em bairros como Itaquera e Parque do Carmo. De forma geral, são imóveis próximos a áreas de mata ou ao lado de terrenos com vegetação.
Em redes sociais, há relatos de que aranhas “parrudas” têm surgido pelos bairros da região. O Metrópoles foi até Itaquera e coletou relatos de quem tem encontrado esses bichos — que não são insetos — com mais frequência do que costumava acontecer no passado. Há pessoas que apontam até mesmo a presença de armadeiras, que são mais agressivas se forem perturbadas e têm veneno potente.
O corretor Marcos Carrenho, 54 anos, notou o surgimento de aranhas no Jardim Helian e Gleba do Pêssego, em Itaquera. Os bichos começaram a aparecer com mais frequência nos últimos meses e passaram a assustar e causar problemas para muitas pessoas.
“Está aumentando bastante. Está infestado ali de aracnídeo para aquele lado. Inclusive, a molecada está passando mal”, afirmou. “Nesses dias, uma criança foi parar no hospital devido à picada de aranha. Está com um transtorno grande ali”, disse.
Carrenho diz que tem aranha de todo tamanho, mas também faz uma ponderação relevante. “Estamos invadindo o território delas, né?”, afirmou.
A reportagem notou que muitos dos contatos entre aranhas e humanos têm se dado em imóveis próximos a áreas de mata, com o Gleba do Pêssego ou Jardim Helian, além casas e prédios vizinhos de terrenos com vegetação.
É o caso, por exemplo, da casa da auxiliar de limpeza Regislaine Dias de Souza, 36 anos, que mora na Rua Quadrinhas de Amor e percebeu o surgimento de aranhas. “Nesta semana, notei que tinha uma marrom, peludinha, no meio do quintal”, afirmou.
Regislaine diz que vizinhos também têm compartilhado imagens em Facebook sobre a presença desses animais, algo incomum até pouco tempo atrás. “Já vai fazer dois anos que moro ali e só foi aparecer agora”, disse. “Querendo ou não, falam que vem do mato.”
Quando se caminha por ruas como a Sho Yoshioka, por exemplo, não é difícil perceber de onde surgem as aranhas que assustam moradores de novos condomínios e casas. Há mata no entorno.
Picada
Um condomínio na região do Parque do Carmo estava pronto havia dez meses, quando então passou a ser habitado na metade do ano passado. Em fevereiro e março, passou por dedetização. “Achamos várias mortas pelo condomínio, bem grandes. Caranguejeiras, marrons”, diz o síndico Lucas Vieira.
Além do térreo, há também apartamentos no “menos 1”, porque não há garagens no condomínio. “Próximo à janela, a gente tem aquelas cercas-vivas, com plantinhas que crescem em volta”, afirma. “O pessoal começou a fazer a jardinagem e, um belo dia, uma moradora foi picada por uma aranha marrom”, diz.
Vieira afirma que a moradora disse que estava deitada, sentiu a picada, mas que passou. “Dois dias depois, começou a formar a ferida”, diz.
O síndico diz que, em fevereiro e março, o condomínio, que tem vegetação ao redor e até um córrego, passou por dedetização. Surgiram, então, várias aranhas grandes mortas pelas áreas comuns.
Mais recentemente, o zelador aplicou veneno para aranhas e escorpiões nas proximidades das janelas.
Origem
Diretor do Laboratório de Coleções Zoológicas do Instituto Butantan, Antonio Brescovit afirma que, quando condomínios são construídos em terrenos onde havia aranhas, elas não desaparecem completamente. “Muitas voltam a ocupar espaços em quintais, gramados e até nas casas destes condomínios. Para isso, basta ter substrato ou esconderijos, para elas habitarem”, diz.
Brescovit afirma que aranhas não causam infestação e, dificilmente, andam em grupos. O representante do Butantan afirma que o ideal é devolvê-las para áreas que não sejam domiciliares ou encaminhar para o setor de zoonoses da cidade.
“Quando encontrar o animal, é tentar deslocá-lo com uma vassoura ou colocá-lo em algum pote com tampa. Se possível, devolver à mata ou encaminhar para órgão como as zoonoses das cidades”, diz.
Armadeiras: perdidas e prontas para o bote
Muitos moradores apontam para o surgimento de armadeiras, que são aranhas grandes, com coloração marrom e um desenho em folha no dorso do abdômen. “Em geral, quando perturbada, assume comportamento de defesa característico, erguendo as pernas anteriores, sentando no abdômen e pernas posteriores, enquanto expõe as quelíceras [mandíbulas]. Ou seja, está atenta e pronta para dar um bote, se necessário”, diz Brescovit.
O representante do Butantan afirma que elas são comuns nas regiões Sudeste e Sul e ficam distribuídas em grandes cidades, como São Paulo. “Os machos são comuns neste período, pois é a época que eles ficam adultos e saem à procura das fêmeas para reprodução. Isso ocorre geralmente à noite, mas acabam entrando nas habitações e se perdem nesses ambientes”, diz.
O especialista explica que as armadeiras podem ser confundidas com suas primas do gênero Ctenus spp., de coloração parecida, e com aranhas Lycosidae (aranhas da grama), que também pode expor comportamento parecido com armadeira.
A Secretaria Municipal da Saúde (SMS) diz, que em 2024, foram notificados 330 acidentes com aranha em residentes do município de São Paulo. “Em caso de acidente, o munícipe deve procurar a unidade de saúde mais próxima o mais breve possível. A população pode encontrar o serviço mais próximo por meio da plataforma Busca Saúde”, diz.
A secretaria também diz que é possível tomar uma série de medidas preventivas. Veja abaixo.
Medidas preventivas
- Manter limpos quintais, jardins, sótãos, garagens e depósitos.
- Evitar o acúmulo de folhas secas, lixo e outros materiais.
- Ao manusear materiais de construção ou objetos abandonados, usar luvas grossas e calçados.
- Rebocar paredes e muros para que não apresentem vãos e frestas.
- Vedar soleiras de portas com rolos de areia.
- Acondicionar o lixo em recipientes fechados para evitar baratas e outros insetos, que servem de alimento às aranhas.
- Realizar limpeza de terrenos e manutenção da vegetação e examinar calçados, roupas e toalhas antes de usá-los.