Apontado como um dos principais operadores do maior esquema de fraudes já registrado contra o Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), o empresário Antônio Carlos Camilo Antunes, conhecido como “Careca do INSS”, viu sua fortuna crescer de forma exponencial nos últimos anos, muito além do que sua renda declarada poderia justificar.
Empresário até então desconhecido do grande público, Antunes passou a ser investigado pela Polícia Federal por sua atuação no núcleo financeiro do esquema que desviou bilhões de reais de aposentados e pensionistas por meio de descontos indevidos em benefícios previdenciários. O escândalo no INSS foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023 (saiba mais abaixo).
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Segundo a Polícia Federal, entre abril e julho de 2024, o patrimônio imobilizado de Antunes saltou para R$ 14,3 milhões. Em apenas 129 dias, ele movimentou R$ 12,2 milhões em contas bancárias. Tudo isso enquanto sua renda mensal oficial era de R$ 24.458,23 e o patrimônio declarado à Justiça Eleitoral estava entre R$ 1 milhão e R$ 5 milhões.
Os investigadores rastrearam uma frota de 12 veículos de luxo em nome de Antunes, incluindo modelos da Porsche, BMW, Audi e Jaguar. Ele também adquiriu imóveis de alto padrão em Brasília e São Paulo, entre eles uma casa no Lago Sul, uma das regiões mais nobres da capital federal, comprada à vista por R$ 3,3 milhões.
Além do patrimônio em território nacional, o “Careca do INSS” mantinha uma empresa offshore nas Ilhas Virgens Britânicas — considerada um paraíso fiscal. A firma, segundo relatório da PF, foi utilizada para adquirir ao menos quatro imóveis no Brasil, totalizando R$ 11 milhões. A suspeita dos investigadores é de que a estrutura internacional tenha servido para lavar dinheiro e ocultar bens obtidos com recursos desviados do INSS.
Antunes é sócio de 22 empresas, muitas delas atuando em áreas como consultoria, call center, construção civil e tecnologia. Algumas dessas companhias compartilham o mesmo endereço, telefone e Classificação Nacional de Atividades Econômicas (CNAE), o que, segundo a PF, indica tentativa de blindagem societária e pulverização de responsabilidades.
Segundo os investigadores, ele funcionava como elo entre associações e servidores públicos, viabilizando repasses e recebendo comissões por meio de contratos com entidades supostamente sem fins lucrativos. Pessoas físicas e jurídicas ligadas diretamente a Antunes teriam recebido ao menos R$ 53,5 milhões dessas entidades, conforme revelado em relatórios de inteligência financeira.
O esquema investigado envolvia falsificação de autorizações de desconto, filiações forjadas, acesso indevido a sistemas do INSS e o uso de entidades de fachada. A atuação de Antunes teria sido crucial para operacionalizar esse mecanismo, sustentado por empresas que simulavam a prestação de serviços enquanto, na prática, redistribuíam os valores desviados.
A investigação também identificou que parte dos recursos obtidos pelo grupo foi reinvestida na abertura de novas empresas, inclusive na área de tecnologia da informação, com contratos suspeitos de superfaturamento e vínculos com o próprio sistema previdenciário.
O esquema
O escândalo do INSS foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023. Três meses depois, o portal mostrou que a arrecadação das entidades com descontos de mensalidade de aposentados havia disparado, chegando a R$ 2 bilhões em um ano, enquanto as associações respondiam a milhares de processos por fraude na filiação de segurados.
As reportagens do Metrópoles levaram à abertura de inquérito pela PF e abasteceram as apurações da Controladoria-Geral da União (CGU). Ao todo, 38 matérias do portal foram listadas pela PF na representação que deu origem à Operação Sem Desconto, deflagrada em 23 de abril, e que culminou nas demissões do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.