São Paulo — Cem escolas de São Paulo vão adotar o modelo cívico-militar no segundo semestre deste ano. O governo Tarcísio de Freitas (Republicanos) defende o formato como maneira de melhorar o ensino, mas um levantamento mostra que, em alguns aspectos, as escolas selecionadas já têm uma realidade privilegiada quando comparadas com o resto da rede.
A pedido do Metrópoles, o professor Fernando Cássio, da Faculdade de Educação da Universidade de São Paulo (FE-USP), separou os dados do Censo Escolar e os indicadores de qualidade de ensino das escolas que serão militarizadas, e comparou as informações com as das diretorias de ensino das regiões e da rede como um todo.
O levantamento mostra, por exemplo, que enquanto apenas 45,6% das escolas estaduais paulistas são de tempo integral, 73% das unidades que terão o modelo cívico-militar já funcionam de forma integral.


Tarcísio enviou projeto das escolas cívico-militares à Alesp em março de 2024
Divulgação / Governo de SP
Governador Tarcísio de Freitas discursa durante cerimônia de lançamento da Frente Parlamentar das Escolas Cívico-Militares
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Escolas cívico-militares são criticadas por especialistas
Vinícius Schmidt/Metrópoles
Programa de escolas cívico-militares do governo federal foi encerrado pelo governo Lula em 2023
Governo de Goiás/Divulgação
As futuras escolas militarizadas também têm indicadores de infraestrutura melhores que as demais. Enquanto as bibliotecas com sala de leitura estão presentes em 82,9% da rede, nas escolas selecionadas para receber o modelo cívico-militar o percentual chega a 93%.
Veja abaixo outros fatores com melhor desempenho nas unidades selecionadas, segundo os dados do Censo Escolar de 2024:
- Quadras cobertas: estão presentes em 83,1% da rede, e entre 91% das futuras escolas cívico-militares.
- Tablets: estão disponíveis para os alunos em 69,5% das escolas estaduais, e em 76% das que serão militarizadas.
- Laboratório de informática: existem em 77,8% dos colégios da rede, e em 83% das escolas cívico-militares.
Qualidade de ensino
As escolas que serão militarizadas foram selecionadas pelo governo priorizando a instalação de pelo menos uma unidade por município interessado (entenda melhor abaixo), e o resultado do Índice de Desenvolvimento da Educação de São Paulo (Idesp), indicador que mede a qualidade do ensino na rede estadual.
A pasta selecionou, entre as escolas que já tinham aprovado o modelo, aquelas com menor nota no Idesp. Mesmo assim, uma análise sobre os números do indicador mostra que algumas das unidades escolhidas se destacam em relação ao desempenho geral da diretoria de ensino da qual fazem parte.
É o caso da Escola Estadual Professora Justina de Oliveira Gonçalves, em Ourinhos, no interior paulista. Segundo o levantamento feito pelo professor a pedido do Metrópoles, a escola registrou nota 4,58 no Idesp para o Ensino Médio, valor 206% maior que a média da Diretoria de Ensino de Ourinhos para essa etapa de ensino.
Como foi a seleção das escolas
- Depois de sancionar a lei do programa Escola Cívico-Militar, o governo Tarcísio questionou quais diretores tinham interesse em adotar o projeto em seus colégios. A manifestação de interesse era aberta a todos.
- Na época, 302 diretores manifestaram interesse no programa.
- Depois disso, a Secretaria da Educação abriu três consultas públicas para que pais, funcionários e alunos maiores de 16 anos votassem se eram ou não favoráveis à implantação do modelo.
- As consultas terminaram com 132 unidades aprovando a militarização.
- O governo selecionou então 100, das 132 escolas.
A maior parte das unidades que serão militarizadas também apresentam nota no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb) superior à média da rede estadual, em pelo menos uma das etapas de ensino – Anos Finais ou Ensino Médio.
Uma conta feita pelo Metrópoles mostra que 61 das 100 escolas que serão militarizadas têm nota no Ideb maior que a média de 5,1 registrada pela rede nos Anos Finais e que a média de 4,2 que a rede possui para o Ensino Médio.
A Escola Estadual Professor Geraldo Pecorari, em Junqueirópolis, no interior paulista, por exemplo, teve nota 7 no Ideb dos Anos Finais.
O programa Escola Cívico-Militar será implantado em escolas de 89 cidades paulistas. Duas unidades ficam na capital, 20 na Grande São Paulo, cinco no litoral, e 73 no interior.
O governo afirma que das 89 cidades, 80 delas são municípios com IDH abaixo da média estadual e 37 estão abaixo da média nacional.