A coluna apurou que o empresário Randel Machado de Faria, proprietário da Target Pesquisas de Mercado, empresa contratada pela Confederação Nacional dos Agricultores Familiares (Conafer) por R$ 750 mil para coletar assinaturas de supostos associados, já foi investigado em diversas operações da Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) por envolvimento em esquemas de grilagem de terras públicas. O escândalo no INSS foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023 (saiba mais abaixo).
Segundo as investigações reveladas em primeira mão pela coluna, a Target participou do esquema que resultou em descontos indevidos em aposentadorias e pensões do INSS. O inquérito policial conduzido pela Polícia Civil do Distrito Federal (PCDF) aponta que a empresa era responsável por “dar aparência de legalidade” às filiações fraudulentas utilizadas pela Conafer para justificar os descontos, muitas vezes sem qualquer autorização dos beneficiários.
Grilagem
O nome de Randel também consta em inquéritos anteriores da PCDF, como a Operação Sacerdote, deflagrada em 2017, que desmantelou um esquema de venda ilegal de terrenos públicos em áreas nobres e de proteção ambiental do Distrito Federal. À época, ele atuava como síndico de um condomínio envolvido no caso e, segundo a polícia, chegou a receber antecipadamente valores de até R$ 520 mil de compradores interessados em lotes irregulares.
Durante as buscas da Operação Sacerdote, a polícia apreendeu R$ 40 mil em espécie com Randel, além de documentos relacionados às transações suspeitas. A atuação do grupo, segundo a delegada responsável, envolvia crimes como associação criminosa, falsidade ideológica, tráfico de influência e corrupção ativa. A Terracap foi quem denunciou inicialmente o caso.
Além disso, Randel voltou a ser citado em outra investigação da PCDF, a Operação Dinossauro, que mirava um novo esquema de invasão e loteamento de terras públicas com valor estimado em milhões. A área desmatada pelo grupo estava localizada na região do Jardim Botânico, dentro de uma Área de Proteção Ambiental (APA). A tática incluía o uso de documentos falsos e até um suposto “sítio arqueológico” como subterfúgio para burlar órgãos de fiscalização ambiental.
Nos autos do inquérito sobre o caso Conafer, o nome de Randel reaparece em circunstâncias igualmente suspeitas. Um delator relatou à polícia que o empresário circulava com malas de dinheiro pelo país. O objetivo, segundo as investigações, seria viabilizar a operacionalização do esquema, incluindo possíveis pagamentos ilícitos e tentativas de cooptação. Atualmente, o CNPJ da Target Pesquisas de Mercado está inapto desde novembro de 2023 por omissão de declarações fiscais.
Farra no INSS
O escândalo do INSS foi revelado pelo Metrópoles em uma série de reportagens publicadas a partir de dezembro de 2023. Três meses depois, o portal mostrou que a arrecadação das entidades com descontos de mensalidade de aposentados havia disparado, chegando a R$ 2 bilhões em um ano, enquanto as associações respondiam a milhares de processos por fraude na filiação de segurados.
As reportagens do Metrópoles levaram à abertura de inquérito pela PF e abasteceram as apurações da Controladoria-Geral da União (CGU). Ao todo, 38 matérias do portal foram listadas pela PF na representação que deu origem à Operação Sem Desconto, deflagrada em 23 de abril, e que culminou nas demissões do presidente do INSS, Alessandro Stefanutto, e do ministro da Previdência, Carlos Lupi.