São Paulo — A conclusão do inquérito sobre a morte do inimigo do Primeiro Comando da Capital (PCC) Vinícius Gritzbach não convenceu alguns dos integrantes da força-tarefa criada para apurar o cas0. A percepção é que a equipe de investigação se precipitou ao apontar Emílio Gongorra Castilho, o Cigarreiro, e Diego dos Antos Alves, o Didi, como os grandes mandantes do homicídio.
A dupla, ligada ao núcleo do PCC na zona leste, não está no topo da hierarquia regional da facção. Para um integrante da força-tarefa ouvido em reservado pela reportagem, seria “leviano” acreditar que um crime tão ousado e engenhoso teria sido planejado e executado sem o aval ou a coparticipação de importantes lideranças da organização criminosa.
O corretor de imóveis Vinícius Gritzbach foi morto com 10 tiros de fuzil à luz do dia e diante de dezenas de câmeras de segurança no Aeroporto de Guarulhos em 8 de novembro do ano passado. A estimativa da força-tarefa é que o crime tenha custado pelo menos R$ 3 milhões, incluindo os valores pagos para cooptar os policiais militares que atuaram como atiradores.
Ao apresentar o relatório final de investigação, na última sexta-feira (14/3), o secretário-executivo da Secretaria da Segurança Pública (SSP), Osvaldo Nico Gonçalves, que comanda a força-tarefa, comemorou o desfecho do caso.
“Hoje é o dia de remeter o inquérito para o Fórum, no caso do bandido Vinícius, encerrando nosso ciclo de polícia. […] Foi um caso emblemático, que desafiou a polícia aqui de São Paulo, mas nós chegamos ao fim”, afirmou Nico.






Antônio Vinícius Lopes Gritzbach voltava de uma viagem com a namorada quando foi executado na tarde de 8 de novembro, na área de desembarque do Terminal 2 do Aeroporto Internacional de São Paulo
Câmera Record/Reprodução
Gritzbach chegou a ser preso, mas acabou liberado
TV Band/Reprodução
Segundo o Ministério Público de São Paulo (MPSP), Gritzbach teria mandado matar dois integrantes do PCC
Reprodução/TV Band
O delator do PCC foi preso em 2 de fevereiro deste ano em um resort de luxo na Bahia
Reprodução/TV Band
Empresário, preso sob suspeita de mandar matar integrantes do PCC, foi solto por determinação do Superior Tribunal de Justiça (STJ)
Divulgação
Corpo de rival do PCC executado no aeroporto
Leonardo Amaro/ Metrópoles
Corpo de rival do PCC morto em desembarque de aeroporto
Leonardo Amaro/ Metrópoles
Delator do PCC foi morto no Aeroporto de Guarulhos
Reprodução
Corpo de rival do PCC morto em desembarque de aeroporto
Reprodução
Reprodução
Três dias depois, nessa segunda-feira (17/3), ao apresentarem denúncia contra seis investigados, os pr0motores da Vara do Júri de Guarulhos disseram que o mando do crime ainda não está completamente esclarecido e defenderam que a Polícia Civil continue a apurar o caso.
“Para nós do Ministério Público de São Paulo, responsáveis pela investigação do homicídio, o caso não está completamente encerrado”, disse o promotor Rodrigo Merli. “Podem estar envolvidos outros policiais militares? Podem. Policiais civis? Podem. Outros delatados pelo Vinícius? Podem. Podem ser pessoas relacionadas com aquela questão das joias? Também podem”.
Além de Cigarreiro e Didi, foram denunciados Kauê do Amaral Coelho, o Jubileu, apontado como o responsável por avisar os atiradores sobre a chegada de Gritzbach no aeroporto, e os policiais militares Denis Martins e Ruan Rodrigues, apontados como atiradores, e Fernando Genauro, que seria o motorista do carro usado no crime.
Jurado de morte pelo PCC
De acordo com as investigações, o homicídio de Vinícius Gritzbach seria uma vingança por três episódios: o suposto desvio de um investimento milionário da facção em criptomoedas; a morte do líder do PCC Anselmo Santa Fausta, o Cara Preta, em dezembro de 2021; e o acordo de delação premiada firmado com o MPSP no ano passado.
Gritzbach teria sido jurado de morte em janeiro de 2022, após escapar de um tribunal do crime em que seria julgado pelo suposto golpe das criptomoedas e pelo homicídio de Cara Preta. Na ocasião, o inimigo do PCC foi solto, prometendo entregar as senhas de carteiras digitais em que estariam armazenados os investimentos da facção.
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Cigarreiro e Didi estavam presentes no julgamento, assim como importantes figuras do PCC, como Danilo Lima de Oliveira, o Tripa; Rafael Maeda Pires, o Japa; e Claudio Marcos de Almeida, o Django.
De acordo com informações do Grupo de Atuação Especial de Combate ao Crime Organizado (Gaeco) do MPSP, o grupo seria liderado por Silvio Luiz Ferreira, o Cebola, chefão do PCC na zona leste, ligado à empresa de ônibus UpBus. Teria sido ele o responsável por “decretar” a morte de Gritzbach, assim que soube que ele havia escapado.
Cebola, no entanto, não é mencionado no relatório de investigação da Polícia Civil. O documento se limita a dizer: “É possível que outros participantes do debate [tribunal do crime] também façam parte do grupo de mando, porém não existem elementos para vinculá-los”.
Django morreu enforcado, também em um tribunal do crime, no que se acredita ser uma punição pelo “drible” dado por Gritzbach. Japa foi encontrado morto no próprio carro meses depois.
O organograma montado pela equipe de investigação e anexado ao inquérito cita ainda a presença de homens identificados como Nega e Pescador.
O documento não menciona a participação do policial civil Marcelo Ruggieri, o Xará, que teria ajudado a sequestrar Gritzbach para levá-lo ao tribunal do crime, de acordo com o Gaeco.

Vínculo com crime
No relatório de investigação, Kauê do Amaral Coelho, apontado como olheiro do crime, é o principal vínculo usado pela polícia para associar Cigarreiro e Didi aos atiradores. Kauê é primo de Didi e, segundo as investigações, trabalha para Cigarreiro.
A partir da quebra de sigilo do aparelho celular do olheiro, foram encontradas conversas com menções a Cigarreiro, com um áudio em que Kauê fala sobre um episódio em que os dois estiveram juntos.
Segundo a polícia, conversas entre vários envolvidos no esquema fazem referência a Cigarreiro como “pai”, indicando o papel de liderança no crime. Ele também estaria ligado ao endereço na Vila Cruzeiro, no Rio de Janeiro, para onde o olheiro fugiu após o crime.
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A comunidade, dominada pelo Comando Vermelho (CV), tem Cigarreiro como um dos fornecedores de droga. No local, eles teriam realizado uma festa que durou dois dias para comemorar o sucesso na “missão” para matar Gritzbach.
“Não existem dúvidas que todos os indivíduos supramencionados de alguma forma trabalham e estão vinculados a Cigarreira, sendo eles integrantes do PCC, CV ou da organização criminosa de tráfico de drogas interestadual liderada por Emílio Castilho”, afirma a polícia no relatório.
“Fica claro que Kauê é próximo de ‘Bill Cigarreiro’ e que este realmente é o responsável pelos pagamentos relacionados ao crime em tela. Diversas são as conversas e menções a Cigarreira nas informações obtidas por quebra de sigilo telemático de pessoas vinculadas ao investigado Kauê […] que comprovam que ele é o mandante dos crimes praticados no Aeroporto de Guarulhos, que contou com a presença física de Kauê”, diz o relatório.
Após o homicídio, o olheiro teria ido com seu Audi A1 até o terminal de ônibus Cepac, onde buscou os atiradores e deu continuidade à fuga.
“Após o abandono do Gol pelos executores do crime na Rua Guilherme Lino dos Santos próximo ao nº 870, os atiradores embarcam em um ônibus e descem no Terminal Cecap, onde são resgatados por Kauê do Amaral Coelho, com o mesmo Audi A1 Placas EEX1I29”, diz o relatório.
Kauê do Amaral Coelho foi flagrado pela Polícia Civil de São Paulo na comunidade da Vila Cruzeiro no Rio de Janeiro. De acordo com a equipe de investigação, seria necessária uma operação com mais de 700 homens para capturá-lo. A suspeita é que Cigarreiro e Didi também estejam no local.