
A expectativa de tributação sobre investimentos hoje isentos de Imposto de Renda já está afetando os preços desses ativos no mercado. Segundo análise do Bradesco BBI, a demanda por papéis como LCI e LCA ficou ainda mais aquecida nas últimas semanas após a publicação da medida provisória (MP) que propõe o fim da isenção a partir de 2026.
A prova está no fechamento dos spreads: o diferencial dos títulos indexados ao IPCA atingiu 1,7 ponto-base na terça-feira passada, 10 de junho, o menor patamar desde o início do ano passado. Na semana, a taxa se manteve próxima de 4 pontos-base – ou seja, 0,4 ponto acima do título público equivalente. Já o spread em CDI+ desde março continua perto de 100bps, destacam os analistas do BBI.
A maior demanda por títulos isentos era um movimento esperado após a edição da MP e o possível fim do benefício tributário. No entanto, especialistas recomendam cautela. “Mudar agora me parece muito cedo”, avalia Rodrigo Sgavioli, head de Alocação da XP. “Qualquer movimento muito antecipado pode acabar tomando uma decisão muito precoce sobre esse investimento.”

Gabriel Campoy, wealth planner da XP Private Bank, lembra que a MP ainda precisa ser aprovada no Congresso em até 120 dias — e só terá validade a partir de janeiro de 2026. “É cedo. Vamos respirar para ver como assunto avança. Teremos tempo de discutir as decisões de investimentos”, pondera.
A Câmara dos Deputados deve votar no fim da tarde desta segunda-feira (16) a urgência de um projeto que propõe a sustação do decreto do governo que elevou o IOF. A votação da matéria em si, no entanto, é considerada improvável. Já a MP tende a ficar parada enquanto governo e Congresso discutem as medidas. O ministro Fernando Haddad saiu de férias hoje e retorna apenas no dia 22 de junho.
Planejamento é essencial para aproveitar o benefício
A recomendação dos especialistas é que os investidores aproveitem o tempo até a mudança para reorganizar suas carteiras com mais critério. A principal vantagem de entrar agora nos papéis isentos é que os ativos emitidos até o fim de 2025 continuarão sem cobrança de IR, respeitando o princípio da anterioridade tributária.
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No entanto, Sgavioli adverte que uma escolha apressada pode gerar problemas: “Essa corrida pode ser feita de forma atabalhoada, e comprar qualquer ativo isento pelo motivo errado”. Ele destaca que a decisão deve considerar o perfil de risco e os objetivos de retorno de cada investidor.
A XP também alerta para armadilhas em fundos como os FI-Infra, que podem misturar ativos tributados e isentos, dificultando a leitura da rentabilidade líquida. Já em FIIs e Fiagros, Sgavioli afirma que os gestores devem buscar estratégias para manter o retorno mesmo com a nova alíquota de 5% sobre os dividendos. “Aplicações incentivadas, mesmo com taxação, no longo prazo são sempre bem-vindas”, reforça.