São Paulo — O desaparecimento do fluxo da Cracolândia, na Rua dos Protestantes, desde a última segunda-feira (12/5), levou à dispersão pela região central de São Paulo. Na noite de quarta (14/5), o Metrópoles encontrou concentração de usuários, em grupos menores ou com até dezenas de pessoas, além de circulação intensa pelos bairros mais próximos ao antigo “epicentro” do crack.
A movimentação de usuários pela região central de São Paulo é dinâmica e, após a dispersão, as concentrações podem mudar de lugar em questão de horas. O que a reportagem viu foram alguns exemplos, retratos de momento, durante cerca de uma hora, a partir das 20h30, na noite de quarta.
Um dos principais pontos de aglomeração estava nas proximidades da Praça Marechal Deodoro, incluindo o trecho sob o Minhocão. É um lugar que já costumava concentrar usuários anteriormente, mas chamou a atenção o volume de pessoas reunidas.
Próximo dali, na Rua Helvétia, dezenas de usuários se aglomeravam ao longo de um muro, na parte escura da calçada, às 20h41. A reportagem foi até o local e conversou com pessoas que vivem nas proximidades e que notaram, principalmente durante noite e madrugada, uma concentração maior após a dispersão do fluxo da Rua dos Protestantes.


Usuários de crack na Rua Helvétia
William Cardoso/Metrópoles
Rua dos Protestantes, que concentrava o fluxo da Cracolândia
William Cardoso/Metrópoles
Concentração de usuários na Rua Barão de Campinas
William Cardoso/Metrópoles
Rua dos Protestantes, que concentrava o fluxo da Cracolândia
William Cardoso/Metrópoles
A Helvétia já recebeu no passado recente o fluxo da Cracolândia, com centenas de usuários reunidos. Em 2022, ele migrou sistematicamente para região mais próxima da Luz, se estabelecendo posteriormente na Rua dos Gusmões e, por fim, na Protestantes.
Além da Helvétia, havia pequenos grupos consumindo crack em outros locais da região central. Um deles, um pouco maior, estava na Avenida Duque de Caxias.

Durante a caminhada à noite pelo centro, a reportagem notou também um vaivém frenético de dependentes químicos, sem se fixarem em um único ponto.
A Rua dos Protestantes, onde o fluxo ficou instalado durante os últimos anos, permanecia vazia, com viaturas da GCM cercando as duas entradas da primeira quadra.
O que dizem governo estadual e prefeitura
A Secretaria Estadual da Saúde (SES) diz que a atual gestão ampliou o número de leitos para tratamento de dependência química de 345 para 695 leitos nos últimos dois anos. “Desde a sua inauguração, o Hub de Cuidados em Crack e Outras Drogas realizou mais de 30,6 mil atendimentos, destes, sendo que 15 mil foram encaminhados para hospitais especializados”, afirmou.
O governo estadual diz que esse conjunto de ações “permitiu a diminuição crescente do número de dependentes químicos na região e a requalificação de vias que antes eram tomadas pelo fluxo”.
A Prefeitura de São Paulo também foi procurada pelo Metrópoles, mas não se posicionou até a publicação. O espaço segue aberto para manifestações
Nova noite, tudo igual
A sensação de que a Helvétia pode ser tornar novamente o local de maior concentração de usuários foi confirmada no início da noite desta quinta (15/5). Às 19h, um volume ainda maior de pessoas consumia crack entre São João e Barão de Campinas, mesmo lugar da noite anterior.
Cinco minutos depois, a reportagem notou a chegada de duas viaturas que se aproximaram dos usuários e pararam na via. Parte dos dependentes químicos se afastou para a esquina com a São João. O grupo não se dispersou integralmente. Cerca de 20 minutos depois, já sem as duas viaturas, o fluxo voltou a se formar na Helvétia.
Em proporções menores, também foram vistos grupos de usuários no início da noite nas esquinas da Rua dos Gusmões com Conselheiro Nébias; Guaianases com Alameda Glete; Conselheiro Nébias com Helvétia.
Havia concentração com mais de dez usuários na esquina da Guaianases com Avenida Duque de Caxias. No momento em que a reportagem passava pelo local, uma viatura do 3º DP (Campos Elíseos) registrava imagens do grupo.