Além de controlar o transporte por aplicativo, os criminosos do Terceiro Comando Puro (TCP), do Comando Vermelho e de grupos milicianos tentam explorar o uso da internet, e outros serviços, como água e luz, para aumentar o lucro e o domínio territorial, inclusive fora das favelas dominadas pelas facções.
Na última quarta-feira (19/3), policiais militares do Rio de Janeiro (PMERJ) apreenderam em Brás de Pina, Zona Norte carioca, um carro e uma escada de um provedor que estava oferecendo o serviço na região. O bairro é um dos controlados pelo traficante Álvaro Malaquias Santa Rosa, o Peixão, um dos principais nomes do Terceiro Comando Puro (TCP).
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No local da apreensão, um funcionário foi ouvido pela polícia. Ao afirmar que representava uma empresa de telefonia, os militares estranharam que ao contrário de várias outras empresas, o trabalhador não foi incomodado pelos criminosos locais. A polícia suspeita que a provedora de internet foi autorizada pelo tráfico local.
Investigação
A apreensão aconteceu uma semana depois que Renato de Oliveira, representante de outra empresa que funcionava na região, a RDO, foi preso. Segundo a Polícia Civil do Estado do Rio de Janeiro (PCERJ), Renato é apontado como um “laranja” da empresa.
A 22ª Delegacia de Polícia (Penha) ainda descobriu que o CNPJ apresentado pelos advogados da empresa era de uma empresa de cestas básicas do município de Nova Iguaçu, na Baixada Fluminense. Foi apurado também que o provedor ilegal gerava lucros milionários para a facção, que utilizava esse dinheiro para financiar suas atividades criminosas.
De acordo com a corporação, o modus operandi dos bandidos consiste, em parte, em sabotar o serviço tradicional incansavelmente, cortando e queimando cabos, e ameaçando funcionários das empresas. Muitos servidores foram, inclusive, agredidos para impedir a manutenção técnica nos bairros controlados pelos bandidos.
O que aconteceu:
- A PM do Rio de Janeiro apreendeu um carro e uma escada usada pelo prestador de serviço de uma operadora de internet;
- A apreensão ocorreu em Brás de Pina, Zona Norte carioca;
- A suspeita é que a empresa tenha acordo com os criminosos que dominam a região, uma vez que o prestador de serviço trabalhava sem ser incomodado
- Foi apurado que o provedor ilegal gerava lucros milionários para a faccção
O corte de fios pelos criminosos afeta, inclusive, a 22ª DP (Penha), que sofre com as constantes quedas de sinal de internet. As investigações apontam que a atuação da RDO atingia diversos pontos dos bairros Penha Circular, Penha e Brás de Pina.
Ameaças e agressões
Investigações da Polícia Civil do Rio indicam que funcionários dessas empresas na área dominada por Peixão foram agredidos. Alguns relatos falam de violência física e celulares quebrados. Em depoimento à polícia, uma pessoa disse que os criminosos ameaçaram queimar o carro da empresa caso não pagassem uma taxa ao TCP.
Outra vítima disse que, após ameaças, teve a chave do carro roubada e teve que deixar o carro da provedora com diversos equipamentos, inclusive com cabos de fibra ótica.
Segundo o delegado Pedro Bittencourt, titular da Delegacia de Serviços Delegados (DDSD), a internet é um serviço essencial, comum a todas as faixas etárias e grupos sociais, que aumenta o domínio territorial de criminosos de todas as facções e do Rio.
Para o delegado da DDSD, não há diferença na exploração dos serviços por diferentes facções do crime organizado, como traficantes e milicianos.