São Paulo — Dois desaparecidos políticos vítimas da ditadura militar brasileira foram identificados enterrados na Vala Clandestina de Perus, na zona leste de São Paulo. O trabalho de identificação, anunciado nesta quarta-feira (16/4), é fruto de uma parceria entre a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos (CEMDP), o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania (MDHC), a Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), por meio do Centro de Antropologia e Arqueologia Forense (CAAF), e a Prefeitura de São Paulo.
O Grupo de Trabalho Perus (GTP) identificou em 2025 os restos mortais de dois homens: Grenaldo de Jesus da Silva e Dênis Casemiro, que estavam enterrados na Vala de Perus, identificada ainda na década de 1990 no Cemitério Dom Bosco.
Grenaldo da Silva
Grenaldo de Jesus da Silva nasceu em 1941 em São Luís (MA) e iniciou seus estudos nas Forças Armadas na década de 1960. Antes do golpe militar de 1964, participou de movimentos políticos para reivindicação dos marinheiros, soldados e cabos da Marinha. No momento do golpe, por sua militância, Grenaldo recebeu a pena mais dura: foi expulso da Marinha e condenado a cinco anos de prisão.
Ele fugiu da prisão e foi para Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo, onde viveu na clandestinidade e trabalhou como porteiro e vigilante. Foi assassinado em 1972 por agentes do Estado no interior de um avião durante uma ação no Aeroporto de Congonhas. A versão apresentada à época dizia que Grenaldo teria sequestrado uma aeronave e, ao ver seu plano frustrado, se suicidado com um tiro na cabeça. Documentos do Instituto Médico Legal (IML) constataram que ele foi sepultado como indigente no Cemitério Dom Bosco (Vala de Perus) e constava como desaparecido até sua identificação, em 2025.
Dênis Casemiro
Dênis Casemiro, o segundo identificado, nasceu em 1942 em Votuporanga, interior de São Paulo, e foi pedreiro e trabalhador rural em sua cidade natal. Ele ingressou como militante na Ala Vermelha e na Vanguarda Popular Revolucionária (VPR). Foi preso em 1971 e levado ao Departamento de Ordem Política e Social (Dops), onde sofreu torturas por cerca de um mês. Versões dadas pela equipe de repressão alegaram que Casemiro foi morto devido às diversas tentativas de fuga da prisão. Assim como Grenaldo, Dênis foi enterrado como indigente na Vala de Perus e constava como desaparecido político.
Segundo a Unifesp, Dênis já havia sido idenficado ainda em 1991, mas aquela era uma identificação incorreta. Agora, a informação foi confirmada por meio de compatibilidade genética.
O trabalho de identificação
O reconhecimento de Grenaldo e Dênis se deu através do Projeto Perus, do Grupo de Trabalho Perus (GTP), instituído em 2014 para analisar os restos mortais encontrados na década de 1990 na Vala Clandestina de Perus no Cemitério Dom Bosco.
Fazem parte deste grupo de trabalho o Ministério dos Direitos Humanos e da Cidadania, a Secretaria Municipal de Direitos Humanos e Cidadania da Prefeitura de São Paulo, a Unifesp e a Comissão Especial sobre Mortos e Desaparecidos Políticos.
Vala de Perus
A Vala Clandestina de Perus foi identificada em 1990, no Cemitério Dom Bosco, na zona leste de São Paulo. Assim que a vala foi identificada, a Prefeitura assinou um convênio com a Universidade Estadual de Campinas (Unicamp) para identificação das ossadas. Por muitos anos, o trabalho foi interrompido e passou a ser feito por diversas outras universidades públicas.

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A vala foi encontrada na década de 1990, no Cemitério Dom Bosco, zona leste de São Paulo
Reprodução/Governo de SP
Estima-se que há cerca de 42 desaparecidos políticos e indigentes sepultados na vala.
Reprodução/Governo de SP
Em 2014, os trabalhos de identificação foram retomados, encabeçados pela Unifesp. Há uma estimativa de que existam 42 pessoas que foram assassinadas durante a ditadura militar e que estão enterradas na Vala de Perus. Dessas, além de Grenaldo e Dênis, apenas outras quatro foram identificadas até agora: Frederico Eduardo Mayr, Flavio Carvalho Molina, Dimas Antônio Casemiro, Aluísio Palhano Pedreira Ferreira.