Além de importantes mudanças na renda fixa, a medida provisória (MP) prometida pelo governo para “recalibrar” o decreto do IOF com o fim da isenção em títulos incentivados também tem impactos relevantes nas ações. Para especialistas, as novas regras podem até mudar o jeito de investir em ações, mas não justificam mudanças estruturais nos portfólios.
O primeiro e mais óbvio impacto da MP está no aumento da tributação de Juros Sobre Capital Próprio (JCP) de 15% para 20%. O ministro da Fazenda, Fernando Haddad, confirmou nesta terça-feira (10) que a proposta faz parte do pacote de mudanças que serão propostas pelo governo.
Ainda que o aumento de imposto não agrade, Ricardo Schweitzer sócio-fundador da Garoa Wealth Management, diz que não vê motivo para pânico. Para ele, a alteração “afeta a forma como algumas empresas remuneram, mas não muda os fundamentos de boas pagadoras de dividendos”.

O setor financeiro deve ser um dos mais impactados pela mudança, já que os bancos costumam usar mais JCP para remunerar seus acionistas, diz Régis Chinchila, analista da Terra Investimentos.
Schweitzer, porém, segue encarando a questão com naturalidade: “o foco continua sendo geração de caixa e retorno ao acionista; se houver mudança, o mercado se ajusta, as empresas podem reter menos, recomprar ações ou pagar mais dividendos no lugar de JCP”. Ele completa dizendo que “o investidor que foca em renda deve olhar para a qualidade do ativo, não apenas para a forma de pagamento”.
Para quem ainda pensa em fugir das empresas que costumam distribuir proventos via JCP mais frequentemente, os setores de energia elétrica, saneamento e telecomunicações “tradicionalmente distribuem dividendos mais elevados”, diz Chinchila.
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Renda variável vs renda fixa
Já o segundo impacto é indireto, mas positivo: “as ações ficam mais competitivas quando a gente compara com os investimentos em renda fixa”, diz Eduardo Gribler, gestor da AMW.
Com o fim da isenção fiscal nos investimentos incentivados, como LCIs, LCAs, CRIs, CRAs e debêntures incentivadas, mais investidores podem olhar para a Bolsa como uma alternativa melhor para ganho de capital, segundo os especialistas.
No entanto, os investidores não deveriam ir para a Bolsa considerando somente a comparação entre as classes. “Não é porque pagamos Imposto de Renda em ativos de renda fixa que deveríamos investir em ações”, diz Gribler.
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Schweitzer defende que os títulos incentivados “seguem oferecedo boa previsibilidade e risco controlado” e a mudança na tributação “não é o tipo de coisa que justifica, sozinha, uma mudança de estratégia”.
Hora de rebalancear a carteira?
Alguns investidores se programam para recalibrar os portfólios semestralmente. A estratégia é usada principalmente por quem foca no longo prazo e não se preocupa tanto com variações em diárias ou até mensais. Com o primeiro semestre chegando ao fim, começa a temporada de mudanças na carteira e as alterações na tributação podem ser gatilhos para “ajustes táticos”, segundo Ricardo Schweitzer;
O executivo da Garoa afirma que, idealmente, o rebalanceamento deve ser feito “quando os fundamentos mudam” no cenário macroeconômico ou nos ativos que compõem o portfólio. Com a tributação de isentos e aumento de IR nos Juros Sobre Capital Próprio, ele vê uma janela para mudanças como reduzir a exposição a crédito privado de longo prazo e priorizar ações com fluxo de caixa mais resiliente.
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Chinchila, da Terra Investimentos, diz que “é prudente que os investidores revisem suas carteiras, ajustando a exposição a setores conforme a perspectiva econômica para o segundo semestre”.
Como ainda há incertezas sobre as mudanças tributárias, o analista recomenda “abordagem cautelosa”, priorizando empresas com fundamentos sólidos, boa governança e capacidade de geração de caixa. “Acompanhar de perto as discussões e ajustar as estratégias conforme novas informações sejam disponibilizadas também é essencial”, conclui.
Schweitzer diz que, “com pouca coisa definida, o investidor corre o risco de reagir demais e pensar de menos”. Enquanto o foco estiver em empresas sólidas, “o resto é barulho”.