Desde o seu lançamento, em 2023, o Tesouro RendA+ vem atraindo investidores preocupados com a aposentadoria. Segundo o Tesouro Nacional, o total aplicado no título somava R$ 4 bilhões no fim de janeiro, uma alta de 150% em um ano. Mas uma pergunta que aflige alguns interessados pela aplicação é: “e se eu viver além do período de pagamento da minha aposentadoria pelo RendA+?”.
O investimento nesse instrumento de renda fixa tem duas fases: aplicação e conversão. Hoje, há oito papéis disponíveis, com cinco anos de diferença entre as datas de conversão, que vão de 2030 a 2065. Quando a fase de conversão chega, o investidor passa a receber o valor investido acrescido da correção pela inflação e juro real em parcelas mensais ao longo de 20 anos. Por isto, quem conseguir se aposentar cedo pode ter de se preocupar com o fim do pagamento.
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O dado mais recente do IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia Estatística) para a expectativa de vida do brasileiro é de 76,4 anos. Portanto, seguindo a estatística, quem quer se aposentar aos 50 anos pelo RendA+ pode não ter o suficiente para seu sustento até o fim da vida. Segundo a B3, os adultos de 25 a 39 anos compunham o grupo com maior participação no Tesouro RendA+ (47%).
Portanto, uma opção viável para garantir 40 anos de pagamento é acumular além do necessário para a renda-alvo na primeira fase de aplicação e, durante os 20 anos iniciais da aposentadoria, usar essa “gordura” para investir nos próximos 20 anos.
O exemplo a seguir pode deixar a estratégia mais clara: imagine um investidor de 25 anos que quer se aposentar aos 50 com renda de R$ 5 mil. Para isto, segundo a calculadora do Tesouro Direto, ele precisa aportar todo mês R$ 402,27 no Tesouro RendA+ 2050. Nesse caso, ele teria a renda desejada até 2070. Mas e depois?
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Com as taxas atuais, uma pessoa que quer se aposentar em 20 anos com os mesmos R$ 5 mil precisa investir R$ 710,74. Em uma conta simplificada e considerando a estabilidade das taxas, esse investidor de 25 anos pode pensar em acrescentar os R$ 710,74 à sua renda entre os 50 e 70 anos. O objetivo é pegar essa “sobra” para aportar novamente no Tesouro RendA+ enquanto recebe os primeiros pagamentos ao longo de 20 anos.
O novo objetivo, então, é acumular o suficiente para uma renda de R$ 5.710,74 – R$ 5 mil para usar no dia a dia da aposentadoria e outros R$ 710,74 para reinvestir. Para alcançar esse objetivo, o aporte mensal sobe de R$ 402,27 para R$ 460,38.
Os investidores que vão se aposentar ainda mais cedo – ou esperam viver por muito tempo – podem modificar a estratégia para garantir um terceiro período de conversão.
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É importante lembrar que o Tesouro RendA+ corrige os investimentos pela inflação. Ou seja, o investidor não recebe exatamente os R$ 5 mil de renda desejados quando se aposentar, mas o equivalente a esse valor conforme a variação do IPCA (Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo).
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Marcos Moreira, sócio da WMS Capital, explica que o planejamento de aposentadoria com o Tesouro RendA+ precisa considerar duas variáveis importantes: a morte durante o período de conversão e o fim do pagamento enquanto o investidor ainda precisa do recurso. Para a segunda, ele destaca que essa estratégia é “útil para nortear investidores” e didática para mostrar que “o pequeno investidor pode usar os juros compostos a seu favor”, já que o patrimônio acumulado se multiplica ao longo do tempo.
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No exemplo usado, seriam aplicados R$ 136,33 mil até 2050. Com a rentabilidade real (além da inflação) de 7,17% ao mês do Tesouro RendA+ 2050, o retorno total seria de R$ 1,37 milhão.
Um dos “poréns” apontados por Moreira nessa simulação é sobre a percepção de inflação. Ele lembra que o IPCA é um índice padronizado e considera uma cesta de produtos e serviços que geralmente os brasileiros consomem. No entanto, um item específico que uma família costuma consumir pode subir além da inflação e trazer uma percepção de que a renda da aposentadoria já não é suficiente. “O IPCA é o índice mais próximo dos parâmetros reais que temos de inflação familiar, mas nem sempre vai refletir a percepção das famílias”, diz o especialista.
Em outro exemplo, um investidor de 30 anos que quer se aposentar aos 55 com renda de R$ 10 mil precisa investir R$ 920,76 por mês. Nesse caso, dos 55 aos 75 ele recebe R$ 11.430 mensalmente do Tesouro Nacional e o que passar de R$ 10 mil, investe na segunda aposentadoria.
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O que acontece em caso de morte?
O sócio da WMS Capital resume dizendo que um bom planejamento sucessório resolve as preocupações com a morte durante o período de conversão – ou antes. Não apenas o Tesouro RendA+, mas qualquer investimento em renda fixa é considerado um bem que pode ser repassado aos herdeiros. Eles devem ser incluídos em um inventário, que precisa ser aberto até 60 dias depois do óbito. Saiba mais sobre o assunto nesta reportagem do InfoMoney: Tesouro RendA+ e outros investimentos: o que acontece em caso de morte?