Médica, bem-sucedida, vinda de uma família de políticos de carreira sólida e de figuras públicas respeitadas. Era assim que Sophia Livas de Morais Almeida — a falsa médica de Manaus (AM) — se apresentava perante à sociedade. Por trás das máscaras, porém, a loira farsante que, apesar de ser formada em educação física, afirmava ser médica especializada em crianças e gestantes, tinha uma única especialidade: o dom de usar de artimanhas para enganar.
O enredo do teatro bem orquestrado que durou quase dois anos foi derrubado nessa segunda-feira (19/5), com a deflagração da operação “Azoth”. Contudo, convencida que a realidade paralela criada em sua mente era real, mesmo após ser levada à delegacia, Sophia tentou sustentar suas mentiras e usar dos privilégios que seus então “familiares” lhe viabilizaram ao longo desses anos.
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Por meio das redes sociais, a mulher publicava supostos registros ao lado do prefeito de Manaus, David Almeida. Ela afirmava ser sobrinha do político, mas a mentira foi publicamente negada pela prefeitura após a operação.
Informações apontam que, na delegacia, a falsa médica teria chegado a declarar aos policiais que nada lhe aconteceria, uma vez que era sobrinha do prefeito de Manaus.
Plano arquitetado
Acompanhado de fotos, os argumentos de Sophia eram facilmente aceitos por quem a conhecia. Em um dos registros, ela supostamente aparece, ainda bebê, no colo do prefeito.
Na legenda da publicação, ela escreveu: “Achei essas fotos aqui na vovó hoje e que lembrança boa. Nossa primeira campanha juntos sem eu saber que era uma campanha (risos). No dia de hoje, em especial, obrigada por todo apoio e colo. Te amo, tio, tô contigo até embaixo d’água”, declarou.
Apesar da mensagem carregada de sentimento, a menina que aparece na fotografia é, na realidade, Fernanda Aryel, a filha do prefeito, que atualmente estuda medicina.
Na segunda fotografia, Sophia posa, já adulta, ao lado de David Almeida. “Quase 30 anos depois, ainda juntos. Não escolhi nascer numa família pública, nem todas essas responsabilidades que vem (sic) com o meu sobrenome, mas escolhi seguir o coração de fazer sempre o bom, o justo e o melhor do mundo que a nossa família sempre fez muito bem”, declarou.
Na tarde dessa segunda-feira (19), uma nota oficial da prefeitura pôs fim à farsa. “A Prefeitura de Manaus, por meio da Secretaria Municipal de Comunicação (Semcom), esclarece que o prefeito de Manaus não possui qualquer parentesco com a suposta falsa médica, alvo da operação “Azoth”, deflagrada nesta segunda-feira, 19/5, pela PC-AM”, informou a assessoria.
No texto, a prefeitura destacou que a foto publicada nas redes sociais pela investigada como sendo ela criança carregada pelo prefeito, na verdade é uma imagem de David Almeida com a filha.
“Outra foto em que também publicou ao lado de David foi tirada por ela mesma (selfie) em um local público, como é recorrente nas diversas vezes em que o prefeito é abordado por populares, que pedem para tirar fotos com ele”, detalhou.
A prefeitura finalizou a nota afirmando que segue com o compromisso de trabalhar com a verdade e esclarecer tudo o que se referir à desinformação, no combate às fake news, em consonância com o bom jornalismo.





Ela usou uma foto do prefeito com a filha para fingir o parentesco
Reprodução
A mulher fingia ser sobrinha do prefeito
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Nota oficial da prefeitura sibre falsa médica
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Falsa médica
Arte/Metrópoles
A farsa
Durante os dois anos, o parentesco de Sophia com o prefeito não parece ter sido alvo de questionamentos por parte de quem a acompanhava nas redes sociais. Diferentemente de seu papel como médica, que chegou a ser contestado algumas vezes por pessoas que receberam seu atendimento.
Segundo a Polícia Civil, em resposta às desconfianças, Sophia chegou a registrar um boletim de ocorrência contra os pacientes, tentando voltar a atenção àqueles que a acusavam.
A operação
Sophia Livas foi abordada pelos agentes da Polícia Civil quando treinava em uma academia em Manaus. A Operação Azoth foi conduzida pelo 1º Distrito Integrado de Polícia (DIP).
As investigações constataram que durante pelo menos dois anos, Sophia atendeu ilegalmente pacientes vulneráveis, incluindo crianças com doenças cardíacas graves, gestantes com fetos de risco e pessoas com Transtorno do Espectro Autista (TEA). Ela também prescrevia medicamentos de tarja preta, emitia atestados falsos e chegou a dar aulas em faculdades, sempre apresentando-se como especialista na área da saúde.
Além do exercício ilegal da medicina, ela responderá por falsidade ideológica, uso de documento falso e poderá ser indiciada por lesão corporal culposa, caso fique comprovado que causou danos aos pacientes.
Prisão mantida
Na tarde dessa terça-feira (20/5), Sophia passou por audiência de custódia no Fórum Henoch Reis, em São Francisco, bairro localizado em Manaus. O Tribunal de Justiça do Amazonas (TJAM) apontou que a prisão foi mantida porque já existia um mandado ativo contra a falsa médica.