São Paulo – Moradora da Favela do Moinho há mais de uma década, Naide Farias, de 38 anos, diz que não deseja para ninguém o que passou nessa terça-feira (13/5), quando o barraco onde mora com o marido e os três filhos foi invadido pela fumaça das bombas de gás lançadas na favela.
Ainda era manhã e parte da comunidade protestava contra a demolição de casas pelo governo estadual. O grupo ateou fogo nos trilhos da Linha 8-Diamante da ViaMobilidade, interrompendo a circulação dos trens, e policiais militares lançaram mão de bombas de gás, spray de pimenta e balas de borracha para conter o protesto.
A filha mais nova de Naide, Yasmin Vitória, de 11 meses, começou a passar mal assim que sentiu o cheiro do gás. “Ela tava aqui na cozinha com a minha mãe, e começou a passar mal, com falta de ar. Eu molhei uma fralda, coloquei no rosto dela, e quando cheguei lá na frente, ela tava quase desmaiando”, conta Naide.
Um vídeo gravado por outras pessoas mostram o momento em que a mãe chegou com Yasmin no colo, chorando, e pediu a ajuda de bombeiros que estavam na entrada da favela. Veja:
No vídeo, é possível ouvir o momento em que Naide diz que a filha tem um problema no pulmão. Recentemente, a menina precisou ficar entubada por causa da questão respiratória. “Para gente, que é adulto, [o gás] já prejudica a garganta. E pra uma criança de 11 meses que tem problema pulmonar?”, afirma. “Eu pensei que ia perder ela”, completa.
Apesar do susto, os bombeiros que atenderam a bebê constataram que a criança ficou bem, passada a falta de ar e a vermelhidão causada pelo gás. Naide permaneceu as cinco horas seguintes fora de casa, abrigada na casa da madrinha de Yasmin, enquanto esperava a situação da Favela do Moinho acalmar.
“Eu tô com medo. Por isso, já arrumei providência de sair [da favela]. Aqui não tem mais como ficar com ela, nem com meus outros filhos”. A família busca agora um imóvel para alugar no centro da cidade, bairro no qual as crianças estudam e onde Yasmin faz o tratamento para o problema respiratório.
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Além da bebê, pelo menos outras três pessoas precisaram de atendimento após o confronto na Favela do Moinho. Duas delas foram flagradas pelo Metrópoles com ferimentos de bala de borracha e disseram que iam para o trabalho quando foram atingidas. Uma terceira, uma mulher de 64 anos, teve uma irritação nos olhos por causa da ação.
Depois da operação dessa terça, o governo federal, dono do terreno, afirmou que interrompeu temporariamente as negociações para ceder a área ao governo estadual. A gestão Tarcísio diz que quer transformar o local em um parque, instalar uma estação de trem e uma atração turística no lugar.






Fumaça invade centro de São Paulo durante protesto contra demolição de casas na Favela do Moinho
Valentina Moreira / Metrópoles
PMs usam escudo para avançar contra protesto na linha 8-Diamante
Valentina Moreira / Metrópoles
Policiais na Favela do Moinho
Valentina Moreira / Metrópoles
Fogo é ateado na região da linha 8-Diamante
Valentina Moreira / Metrópoles
Crianças na Favela do Moinho
Valentina Moreira / Metrópoles
Favela do Moinho tem manhã tensa com demolições, protesto e bombas da PM
Valentina Moreira / Metrópoles
Policiais avançam contra protesto na Favela do Moinho
Valentina Moreira / Metrópoles
PMs na Favela do Moinho
Valentina Moreira / Metrópoles
Remoção de famílias da Favela do Moinho
- Como o território da Favela do Moinho pertence à União, o governo do estado não pode realizar ações de reintegração de posse.
- A alternativa proposta pela gestão Tarcísio é um plano de reassentamento, com adesão voluntária, gerido pela CDHU.
- Os moradores podem optar pela Carta de Crédito Associativa (CCA), em que estão disponíveis imóveis construídos, em construção, ou que já tenham ao menos as licenças emitidas, com tudo pronto para iniciar as obras.
- Outra opção é a Carta de Crédito Individual, na qual os cidadãos podem buscar unidades e apresentar para a CDHU, que faz uma avaliação de valor de mercado para seguir com a contratação.
- Nas duas modalidades, o valor limite é de R$ 250 mil para unidades na região central e R$ 200 mil para outros bairros ou municípios de SP.
- O acordo inclui um auxílio de R$ 2.400 para a mudança e um auxílio moradia mensal de R$ 800. Os apartamentos oferecidos deverão ser pagos pelos moradores por meio de um financiamento equivalente a 20% da renda mensal.
- Segundo a autarquia, 87% das famílias da comunidade aderiram ao programa.
- Conforme o governo de São Paulo, mais de 80 famílias já se mudaram, além de outras mais de 600 que estão em processo de remoção ou de apresentação de documentos.