São Paulo — Com o objetivo de diminuir os efeitos do avanço do mar na Reserva de Desenvolvimento Sustentável (RDS) Barra do Una, em Peruíbe, litoral de São Paulo, equipes técnicas definiram a aplicação de um enrocamento, uma espécie de maciço composto de blocos de rocha compactados, na região. Nesta quinta-feira (17/4), o governo de São Paulo iniciou as obras na estrada do Guaraú (imagem de destaque), via de acesso à reserva, para preparar a logística de instalação do bloco de pedras.
Os serviços são coordenados pela Secretaria de Meio Ambiente, Infraestrutura e Logística do Estado de São Paulo (Semil), por meio da SP Águas. As pedras de até 2,5 toneladas devem proteger a estrada e as moradias na Barra do Una.
Leia também
-
São Paulo
Avanço do mar: técnicos definem solução para conter ameaça em Peruíbe
-
São Paulo
Ação emergencial é iniciada para conter avanço do mar em SP. Vídeo
-
Brasil
Vídeo: casa desaba após avanço do mar na Praia do Saco
-
Brasil
ONU alerta: ilhas podem desaparecer com avanço do mar. Saiba quais
As obras começaram com o nivelamento do perfil da estrada, reforço dos acostamentos e compactação do solo. A ideia é garantir o tráfego seguro dos veículos pesados que serão utilizados na próxima fase do projeto de contenção marítima.
Enrocamento visa diminuir os efeitos do avanço do mar em Barra do Una
Equipes técnicas realizaram vistorias em 27 de março e 4 de abril, quando foram definidas novas medidas para diminuir os efeitos do fenômeno, que tem afetado toda a faixa costeira de São Paulo. A equipe técnica que participou da primeira vistoria era composta por representantes da SP Águas, da Semil, da Defesa Civil do Estado, do Instituto de Pesquisas Ambientais (IPA), da Fundação Florestal (FF), da Prefeitura de Peruíbe e da comunidade local. A segunda fiscalização foi feita apenas por agentes da Semil.
Pesquisadores da Fundação Florestal apontam que a principal causa da erosão na Barra do Una é a migração da desembocadura do Rio Una do Prelado para o norte. Os técnicos avaliam fazer uma intervenção no leito do rio para redirecioná-lo ao seu curso original. De acordo com as equipes, a medida deve contribuir para recompor a faixa de areia na área afetada. Projetos de restauração da vegetação de restinga também estão em análise.
Como será a barreira de enrocamento
Com 200 metros de extensão, a barreira de enrocamento deverá ser construída ao longo da estrada de Barra do Una. Pedras de grandes dimensões, com até 3 metros de altura, serão posicionadas para proteger os moradores e a estrada.
A obra integra o Plano de Adaptação e Resiliência Climática da Semil, que prevê ações voltadas à proteção de zonas costeiras.
Avanço do mar em Peruíbe
A erosão costeira é um fenômeno natural que ocorre em áreas costeiro-marinhas. O avanço do mar provoca a perda de áreas de praia, impacta a vegetação de restinga e ameaça residências e outras edificações próximas.
Na RDS Barra do Una, além da migração da desembocadura do Rio Una do Prelado, o processo do avanço do mar foi agravado pelos eventos climáticos extremos registrados nos últimos anos, que intensificaram a erosão em um trecho da praia.



É possível ver o avanço do mar na vila entre 2008 e 2022
Reprodução/Editoria Livre
O mar avançou até a Rua Beira Mar, que fica muito próxima às casas da região
Reprodução/Editoria Livre
Vistoria define novas medidas para conter avanço do mar em Peruíbe
Divulgação/ Fundação Florestal
No rio, a formação de um esporão arenoso na margem direita contribuiu para o deslocamento da foz para a margem esquerda. Esse movimento, associado ao assoreamento do canal, impactou a vegetação nativa e está se aproximando das moradias e de outras estruturas, explicou a Fundação Florestal.
As quatro famílias residentes na área enfrentam risco de realocação diante da intensificação do avanço do mar.
A Barra do Una é uma unidade de conservação de uso sustentável administrada pela Fundação Florestal. Ela abriga uma comunidade tradicional caiçara com vínculos centenários com o território, desenvolvendo atividades como a pesca artesanal e o turismo de base comunitária.
Medidas para conter a erosão
A Fundação Florestal informou que realiza monitoramento contínuo do processo erosivo na Barra do Una. Além disso, em dezembro de 2024, implantou soluções baseadas na natureza, como o empilhamento de material vegetal, com o objetivo de dissipar a energia das marés, proteger estruturas e recuperar a vegetação de restinga.
Os resultados iniciais dessa ação, segundo a fundação, foram positivos, mas a força do rio, somada a novos eventos climáticos, manteve o avanço da erosão.
Com o problema atingindo a via de acesso das residências das famílias que moram na área e ameaçando os postes de energia elétrica, foram adotadas medidas para recompor as estruturas. Em um primeiro momento, foi utilizado um material rígido para reforçar os acessos. Porém, as marés altas dos últimos dias deslocaram parte desse material para a faixa de areia.
A Prefeitura de Peruíbe, com apoio da Fundação Florestal, informou que está realocando os insumos para garantir a recuperação das vias.
Litoral de SP
Ameaçadas pelo crescente avanço do mar, cidades do litoral paulista têm recorrido a diferentes medidas para tentar evitar que tenham parte de seus territórios inundados, como preveem projeções de diferentes institutos e centros de pesquisa.
Um estudo da organização não governamental norte-americana Climate Central, por exemplo, fez um levantamento em que lista cidades sob risco de uma tragédia climática em todo o mundo e traz um dado alarmante para São Paulo: todo o litoral paulista corre o risco de ter sua área urbana invadida pelo mar caso as previsões de aumento da temperatura se confirmem.




Estudo do Climate Central faz projeção de como Santos poderá ficar caso seja inundada: na imagem, foto atual de Santos
Divulgação/Climate Central
Estudo do Climate Central faz projeção de como Santos poderá ficar caso seja inundada: na imagem, projeção de como Santos ficaria caso o mar invada a cidade
Divulgação/Climate Central
Estudo do Climate Central faz projeção de como o litoral paulista poderá ficar caso seja inundado: na imagem, foto atual da faixa ocupada pelo mar no litoral
Divulgação/Climate Central
Estudo do Climate Central faz projeção de como o litoral paulista poderá ficar caso seja inundado: na imagem, foto atual da faixa ocupada pelo mar no litoral
Divulgação/Climate Central
Os estudos da Climate Central mostram que a poluição atmosférica e o derretimento de geleiras são os principais responsáveis pela elevação do nível dos oceanos do mundo. Existe o risco, mostra o levantamento, de a inundação afetar territórios ocupados por cerca de 10% da população global.
De acordo com o Instituto Oceanográfico da Universidade de São Paulo (USP), o mar já subiu ao menos 20 centímetros no litoral desde o início da série histórica, nos anos 1950 – o avanço é substancial. Em novembro, estudo divulgado pela Organização das Nações Unidas (ONU) mostrou que cidades como Santos podem perder mais 5% de sua área habitável até 2050, daqui a 26 anos.
Diante desse cenário, prefeituras do litoral de São Paulo têm atuado em diferentes frentes para conter o avanço do mar. A implementação de barreiras submersas e de muros, além da preservação da vegetação, estão entre as medidas que vêm sendo adotadas em Santos, Guarujá, Praia Grande, São Vicente, Mongaguá, Ubatuba e Ilhabela.