São Paulo — Apontada como uma das operadoras do bilionário esquema de fraudes contra aposentados do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS), a advogada Cecília Rodrigues Mota (foto em destaque) ganhou um aumento de 29,5% na pensão que recebe do órgão federal no mesmo mês em que a Polícia Federal (PF) deflagrou a operação contra a farra dos descontos indevidos, revelada pelo Metrópoles.
Segundo o Portal da Transparência do governo federal, Cecília recebia, até março, uma pensão mensal de R$ 8,2 mil do INSS, benefício ao qual ela tem direito desde 1990, por ser filha de Vicente Rodrigues de Souza, que foi técnico do órgão. Em abril, o valor da pensão foi reajustado para R$ 10,6 mil.
Como mostrou o Metrópoles, a advogada, que é ex-servidora federal, é investigada pela PF por ter movimentado R$ 14 milhões. Por meio de seu escritório, ela teria recebido valores de associações investigadas nas fraudes e repassado para empresas de familiares de dirigentes do INSS. Cecília também fez 33 viagens, algumas para destinos internacionais como Dubai, no auge da farra dos descontos indevidos.
A PF abriu inquérito para apurar os desvios de aposentadorias em dezembro de 2023, após o Metrópoles iniciar uma série de reportagens revelando o esquema, que pode ter desviado até R$ 6,3 bilhões de mais de 6 milhões de aposentados por meio de cobranças de mensalidade associativa direto da folha de pagamento.
Uma empresa da qual Cecília é sócia, a Highway Comercio e Serviços de Informática, recebeu mais de R$ 1,7 milhão de escritórios de advocacia, entidades de aposentados e pessoas físicas ligadas à farra do INSS. Da Highway, a advogada recebeu pelo menos R$ 659 mil.
Presidente de associações
Há outros indícios de aumento da renda da investigada à medida que o esquema de descontos de entidades associativas crescia. Não há registros de Cecília como contribuinte individual entre março de 2020 e abril de 2024. Depois de quatro anos sem contribuir, ela declarou a partir de maio de 2024 uma renda que chegou a alcançar R$ 100 mil.
Advogada e servidora federal aposentada, Cecília já foi presidente de entidades associativas ligadas à farra do INSS. Ela presidiu a Associação dos Aposentados e Pensionistas Nacional (AAPEN) e a Associação dos Aposentados e Pensionistas do Brasil (AAPB) ao mesmo tempo, entre 29 de março de 2017 e 14 de fevereiro de 2020.
As entidades chegaram a funcionar concomitantemente no mesmo endereço, em Fortaleza (CE). A coincidência fez a Controladoria-Geral da União (CGU) acreditar que seja uma única associação.
“Tal relacionamento, assim como o compartilhamento de endereço, sinalizam para a possibilidade de se tratar de uma organização única, dividida para possibilitar ganhos de mercado”, diz o relatório do órgão.
Aumento de viagens
A investigação também destacou que, entre janeiro e novembro de 2024, a advogada fez 33 viagens, incluindo destinos internacionais comoDubai, Paris e Lisboa. Em 2023, ela viajou oito vezes. Nas idas à Europa e à Àsia, no ano passado, pessoas que receberam valores das empresas de Cecília a acompanharam.
Ela fez dezenas de viagens com seis pessoas que receberam quase R$ 3 milhões em múltiplas operações. Algumas dessas pessoas eram ligadas a Maria Paula de Oliveira, irmã do procurador afastado do INSS, Virgilio Oliveira Filho, e a Eric Fidelis, filho de André Fidelis, ex-diretor de Benefícios do órgão, demitido no ano passado após as reportagens do Metrópoles.
A reportagem não conseguiu localizar a defesa de Cecília Rodrigues Mota. O espaço segue aberto para manifestação.