Com a publicação no dia 1º/5 de um estudo que detalhou a exótica técnica de preservação de uma múmia austríaca de 1746, as ferramentas de embalsamento voltaram a ser tema de conversa. Apesar de parecer um assunto apenas histórico, a prática de conservar corpos não pertence apenas ao passado.
Embora a mumificação esteja associada ao Egito Antigo, técnicas modernas mantêm a tradição viva, adaptada aos padrões sanitários e culturais contemporâneos. “As múmias eram conservadas no geral como parte da ritualística de alguma religião. Hoje, motivos culturais ou práticos muitas vezes levam um corpo a ser embalsamado”, explica a tanatopraxista Elma Romão, de São Paulo.
Os tanatopraxistas são profissionais encarregados de conservar corpos para práticas fúnebres. Na maioria dos casos, porém, eles fazem apenas maquiagens e limpezas, já que os velórios curtos não demandam a conservação corporal do falecido. Entretanto, há casos em que se pode optar por uma espécie de mumificação moderna.
Em casos de transporte de corpo a longas distâncias, o embalsamento é obrigatório para conservar o cadáver e evitar o risco de propagação de doenças. Em outros casos, o processo também pode ser solicitado, como ocorre com figuras públicas que passam por longos velórios. Pelé, por exemplo, foi embalsamado.
Como o corpo é transformado?
Enquanto no Egito a conservação envolvia sais, resinas e a retirada de órgãos internos como forma de evitar a decomposição, hoje a prática evoluiu e é realizada com muito mais precisão.
“O embalsamamento de cadáver é um processo para preservação de longo prazo. Geralmente, esse tempo é de até 72 horas após a morte. A meta é deixar o corpo estável para que todas as fases importantes depois da morte possam ocorrer”, afirma Elma.
Segundo ela, porém, há casos em que o corpo embalsamado é conservado por muito mais tempo, como ocorre com o corpo de Lênin, fundador da União Soviética que está há mais de 100 anos preservado. “Casos excepcionais como esse envolvem algumas técnicas de conservação, como a manutenção em cápsulas isoladas de oxigênio”, completa.
Como é feito o embalsamento?
A técnica se inicia com a higienização completa do corpo em uma mesa cirúrgica. O rigor mortis é amenizado com massagens e produtos germicidas eliminam bactérias que se acumularam no cadáver. Incisões são feitas para inserção de cânulas nas artérias para drenar o sangue.
Depois, o corpo recebe o fluido embalsamador, composto por água, glicerina, formaldeído e aditivos que evitam desidratação e putrefação. Se usa em média 4 litros para cada 20 kg de peso corporal. Em seguida, são aspirados gases acumulados na barriga e a cavidade é selada. Segundo a Associação Brasileira de Tanatopraxia (ABT), atualmente nenhum órgão pode ser retirado.
O processo de substituição dos fluidos demora de 6h a 12h, a depender de dificuldades de artérias obstruídas do corpo, e deve começar até 12h após a morte. Após esta fase, é feita uma necromaquiagem para devolver a cor e textura da pele.
A ABT defende que a prática vai além de apenas inserir formol no corpo do cadáver para sua conservação. “O objetivo é devolver a aparência serena para a pessoa falecida, trata-se de preservar a memória, garantir a saúde pública e valorizar uma vida vivida”, dizem eles.
Quando há ferimentos por armas, como projéteis, a técnica inclui o preenchimento com ceras especiais para uniformizar o rosto. Já em mortes naturais sem necropsia, o procedimento é menos invasivo e mais ágil, conforme as necessidades do funeral.
Fatores que afetam a preservação
A técnica depende também do estado físico da pessoa antes da morte. Medicamentos, doenças crônicas e o tempo em que o corpo ficou exposto podem influenciar na eficácia do embalsamento. Ambiente e clima também impactam a conservação. Altas temperaturas e umidade aceleram a decomposição, enquanto regiões frias retardam esse processo.
O embalsamamento custa a partir de R$ 3,5 mil, com preços variáveis de acordo com a região, a complexidade do corpo e o tempo necessário para a conservação.
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