A ex-ministra da Saúde Nísia Trindade, que é servidora concursada na Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), já tem duas propostas de emprego dois meses após deixar o Ministério da Saúde. Segundo a coluna apurou, a socióloga recebeu ofertas da farmacêutica EMS e da empresa de biotecnologia Biomm.
A Biomm confirmou ter convidado a ex-titular da pasta para ser consultora técnica da empresa “devido a sua longa expertise no setor de saúde, especialmente em biotecnologia”. Ainda não há detalhes sobre as funções que Nísia desempenharia se aceitasse o cargo na EMS.
A ex-ministra disse à coluna que a decisão será tomada “no tempo oportuno”. Ambas as empresas são nacionais. Por ora, Nísia cumpre período de quarentena remunerada e está impedida de atuar nas entidades privadas.
Um dos membros do Conselho de Administração da Biomm é Walfrido Mares Guia, ex-ministro de Relações Institucionais (2007) e do Turismo (2003-2007) durante os dois primeiros governos de Luiz Inácio Lula da Silva (PT). O empresário esteve presente na última entrevista à imprensa de Nísia enquanto ministra, num evento de balanço da gestão.
Não é de hoje que a empresa tem relações com o governo. Lula e Nísia inauguraram uma fábrica de insulina, com planta da Biomm, em Nova Lima (MG), em abril de 2024. Trata-se da primeira unidade a produzir o medicamento após duas décadas.
Com a EMS, não seria diferente. O presidente participou da inauguração da fábrica de polipeptídeo sintético da empresa, em Hortolândia (SP). A unidade, integrante do Complexo Econômico-Industrial da Saúde (Ceis), visa produzir as moléculas de liraglutida e semaglutida (que tem nome comercial de Ozempic), destinadas ao tratamento de obesidade e diabetes, para vender no Brasil, além de exportar.
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A quarentena de Nísia
Como a coluna revelou, a ex-titular da pasta ganhou quarentena remunerada por decisão da Comissão de Ética Pública (CEP) na última segunda-feira (28/4). Na prática, a medida significa que Nísia receberá salário de R$ 44.008,52 – valor igual ao obtido mensalmente como ministra – por seis meses. O gasto total alcançará R$ 265 mil.
A CEP, legalmente, concede quarentena a funcionários de alto escalão que deixam o governo e que têm planos de trabalhar em empresas privadas. O objetivo é evitar conflitos de interesses na chamada porta giratória.
O que afirma Nísia Trindade
Leia a íntegra da nota:
“A ministra vem recebendo convites de diferentes empresas, entidades e organizações, o que atesta o reconhecimento pelo seu trabalho. Avaliará os convites e, de acordo com a legislação, encaminhará ao Conselho de Ética consultas quando puderem implicar conflito de interesses. Em relação à decisão sobre participação como conselheira científica ou consultora de empresas do setor farmacêutico, será tomada no tempo oportuno”.
O que diz a Biomm
Leia a íntegra da nota:
“A companhia confirma que convidou a ex-ministra Nísia Trindade Lima para ser consultora técnica, devido a sua longa expertise no setor de saúde, especialmente em biotecnologia. Mestre em Ciência Política e Doutora em Sociologia, Nísia consolidou a sua trajetória na Fiocruz, a qual presidiu de 2017 a 2027, e é uma pesquisadora reconhecida internacionalmente, portanto, poderá contribuir para fortalecer ainda mais a estratégia da empresa. O convite respeita as exigências legais relacionadas à “quarentena” de ex-ocupantes de cargos públicos e será avaliado pela Comissão de Ética Pública da Presidência da República.”
Questionada, a EMS não se manifestou.