São Paulo — O prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes (MDB), anunciou nesta quarta-feira (7/5) a remoção de 4,3 mil imóveis do Jardim Pantanal, bairro da zona leste da capital paulista que sofre há anos com enchentes. As primeiras mil remoções começam em julho deste ano e vão até outubro do próximo ano.
Além da remoção dos imóveis, a primeira fase do projeto também prevê a construção de uma estrutura de contenção de mais de 4 km de extensão entre o bairro e margem do Rio Tietê, para evitar que novas moradias clandestinas sejam construídas no local, segundo o prefeito.
“Foi demonstrado pela Secretaria de Habitação que aconteceram situações de você fazer remoção de famílias, e depois voltar a reocupar. Então, a grande ação da primeira fase é, tirando essas mil famílias que estão numa área onde chega até 2 m de altura, são áreas de altíssimo risco, fazer esse gabião de 4,2 km que vai delimitar, enfatizando aqui, para que não tenha mais a reocupação dessa área”, afirmou Nunes.
A medida foi anunciada após reunião no Palácio dos Bandeirantes na manhã desta quarta-feira (7/5) com presença do governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), do vice-prefeito, Coronel Mello Araújo (PL), e de diversos secretários estaduais e municipais, além de representantes da Sabesp.
De acordo com o cronograma da prefeitura, a segunda fase irá remover mais mil imóveis da região e deve se iniciar em novembro de 2026 e ir até junho de 2028. Já a terceira etapa começará em julho de 2028 e terminará em dezembro de 2029, com a remoção de mais 2,3 mil imóveis. Ao todo, o projeto tem previsão de custo de R$ 700 milhões, que serão bancados em conjunto pela prefeitura e o governo estadual.
Ainda segundo o prefeito, as famílias retiradas receberão atendimento habitacional do município e do estado, por meio de auxílio aluguel, indenização ou provimento de moradias. Já a Sabesp anunciou que fará estudos de impacto de futuras obras de micro e macrodrenagem na rede de esgoto que passa pelo local.
Segundo o município, no local onde os imóveis serão removidas será construído um parque. Nunes também anunciou a instalação de uma inspetoria da Guarda Civil Metropolitana Ambiental para coibir a construção de novas moradias na área de várzea do rio.
Parte dos convidados foi surpreendida com a convocação e tinha outros compromissos agendados para amanhã (8/5), sem a presença de membros da oposição ou lideranças comunitárias.
O Jardim Pantanal fica na na várzea do Rio Tietê, na divisa do município de São Paulo e Guarulhos. O local é historicamente afetado por enchentes, o que levanta questões sobre a regularidade das ocupações da área e a responsabilidade do poder público. Em janeiro deste ano, famílias ficaram semanas com suas casas inundadas e perderam móveis e eletrodomésticos inteiros por causa do problema.
Desgaste causado pelo Jardim Pantanal
A questão do Jardim Pantanal é motivo de incômodo para Tarcísio e Nunes. No início do ano, os dois chefes do Executivo paulista teriam pressionado vereadores da Câmara Municipal de São Paulo para barrar a implantação de uma CPI do Jardim Pantanal, proposta por um parlamentar do PT, Alessandro Guedes.
Guedes deu declarações apontando a responsabilidade de Nunes e Tarcísio sobre as enchentes, o que teria incomodado os políticos. Depois de aprovada, a CPI nunca começou a funcionar por falta de indicação de vereadores por partidos da base — o que é questionado na Justiça.
Durante as enchentes do início deste ano, o prefeito foi criticado por moradores após afirmar que estudava oferecer ajuda financeira de R$ 30 mil a R$ 50 mil para que famílias deixem suas casas. Em visita ao Jardim Pantanal na época, o vice-prefeito, Coronel Mello Araújo (PL), foi alvo do protestos de moradores do bairro revoltados com os alagamentos.
Remoção é opção mais cara
Estudos preliminares feitos pela Prefeitura de São Paulo e divulgados em fevereiro deste ano mostravam que a proposta de remover as famílias que vivem no Jardim Pantanal era mais cara que a construção de obras de macrodrenagem no local. À época, no entanto, a medida envolvia a retirada de 9 mil famílias.
No projeto divulgado à imprensa, a administração municipal afirmava que estava estudando três alternativas para solucionar as inundações no bairro. Duas delas envolviam obras de macrodrenagem, com remoção de algumas famílias, ao custo de aproximadamente R$ 1 bilhão cada.
Na terceira, que envolvia justamente a retirada da população, o custo estimado do projeto foi orçado em R$ 1,9 bilhão. O valor pagaria o trabalho com remoções, desapropriações, reassentamentos e construção de novos conjuntos habitacionais, além da criação de um parque alagável no lugar.