Durante a Guerra do Vietnã (1955-1975), os Estados Unidos despejaram milhões de litros do Agente Laranja, um herbicida altamente tóxico, para destruir florestas. O resultado foi um dos maiores crimes ambientais e humanitários da história. Até hoje o país asiático sofre com seus efeitos. Em mais uma ironia bizarra e cromática, Trump oferece, com sua política populista de direita, o mesmo legado de destruição.
Em janeiro de 1962, o presidente John Kennedy autorizou a chegada dos primeiros herbicidas, em uma operação chamada de projeto Ranch Hand, que usaram diversos compostos químicos, muitos deles desenvolvidos durante a Segunda Guerra Mundial. Cerca de 20% das selvas do país e 10 milhões de hectares de arrozais foram pulverizados pelo menos uma vez com doses 20 vezes maiores que as recomendadas. O nome surgiu por causa da faixa laranja presente em seus barris, que o diferenciava do agente verde (contra vegetação de folhas grandes) e do agente azul (usado contra os arrozais).
Casos de câncer e má formação congênita atingiram o país durante décadas e atacam a alimentação, formando uma cadeia de doenças. Os peixes e camarões que se alimentam no fundo dos rios pegam os sedimentos contaminados, os peixes maiores comem esses peixes e depois são comidos pelos vietnamitas, dizem pesquisadores.
Donald Trump, em seu primeiro mandato enfraqueceu leis de proteção ambiental, liberando agrotóxicos perigosos e incentivando combustíveis fósseis, aumentou vendas de armas. Se os EUA tentou dividir o Vietnã entre vítimas e algozes, Trump polarizou os EUA com discursos de ódio, fake news e ataques a minorias, intoxicando o debate público e a democracia americana. Seu governo atual intensifica esse tipo de política. O negacionismo climático de Trump se mantém. Se nos anos 1960 os sul-vietnamitas eram o inimigo a alimentar xenofobias, agora os imigrantes latinos são os eleitos.
Décadas depois do veneno químico, reaparece o veneno ideológico contra a própria nação estadunidense . O Vietnã venceu a guerra e se recuperou economicamente. Quanto tempo levará para os EUA se recuperarem de Trump?