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O banquete de Veronese (por Miguel Esteves Cardoso)

A capacidade para nos adaptarmos é um sexto sentido. Muitos animais não têm: morrem. De outros não chegamos a saber: não se adaptaram, ficaram por ali, sem deixar descendência de espécie alguma.

As nossas circunstâncias estão sempre a mudar e, como não podemos mudar as circunstâncias, mudamos a nossa maneira de encará-las.

Veja-se a pintura de Veronese que é conhecida por “Convito in casa de Levi.” Como é que se conta a história desta pintura? Depende da maneira como a queremos contar. Vou contar apenas a história que mais me convém.

Veronese pintou a última ceia, mas a Igreja não gostou. E lá se convocou a Inquisição para julgar o pintor. A pergunta principal era: “Por que a última ceia está cheia de bêbados, anões e alemães”?

Veronese respondeu que havia muito espaço para encher e que tinha tido o cuidado de colocar os bêbados, anões e alemães muito longe de Jesus. Enfim, disse o que qualquer um de nós diria.

Mas não colheu. A Inquisição reagiu como qualquer Inquisição reagiria. Mandou alterar imediatamente a pintura, ordenando que extinguese aquelas figuras carnavalescas.

Veronese não queria alterar uma composição tão magnífica. Decidiu mudar de estratégia: os bêbados, anões e alemães estavam lá porque que, como artista, tinha direito a exprimir-se com a mesma liberdade que se concedia aos loucos e aos poetas. A Inquisição deve ter sorrido, não era insensível à lata.

Veronese e a Inquisição acabaram por se entender. Adaptaram-se.

A pintura ficou na mesma. Só o título mudou. Deixou de ser “A Última Ceia” e passou a ser “O banquete em casa de Levi”. Ou “A farra em casa de Levi”.

O nome mudou-se num segundo e não estragou nada. Foi uma adaptação magnífica.

Não é frequente evocar-se a flexibilidade dos grandes artistas – e muito menos da Inquisição. E assim se acrescentou uma história àquela que é a história da defesa da liberdade artística perante a tirania do gosto dominante.

A pintura ficou. E ficou a rir-se.

(Transcrito do PÚBLICO)

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