Após fechar acima dos 140 mil pontos pela primeira vez nesta terça-feira (20), o Ibovespa passou por uma correção nada surpreendente na sessão seguinte. Além do recorde histórico, o marco rompeu o que os analistas de ações chamam de barreira psicológica, um número que serve como piso ou teto para o mercado e, quando ultrapassado, pode trazer movimentos mais enfáticos de alta ou correção.
Com a combinação de fechamento recorde e rompimento da barreira psicológica dos 140 mil pontos, analistas ouvidos pelo InfoMoney já alertavam para a possibilidade de correções no preço das ações.
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Agora, eles esperam um período de estabilidade ao redor do patamar recorde. “Nossa leitura é de que o Ibovespa deve oscilar próximo dos 140 mil pontos porque um dos principais fundamentos do ponto de vista doméstico para a máxima histórica é a clareza maior sobre a Selic terminal”, diz Marcos Moreira, sócio da WWS Capital.
Embora a aposta majoritária do mercado esteja na manutenção da Selic em 14,75% ao ano até o início de um ciclo de queda, ainda há espaço para dúvida sobre um novo aumento de 0,25 ponto percentual nos juros. Mesmo assim, o consenso de que a Selic não deve ultrapassar os 15% já foi suficiente para impulsionar as ações.
Com uma taxa de juros menor já precificada, “é possível que o mercado tenha uma acomodação no curto prazo”, diz Fernando Siqueira, head de research da Eleven Financial. Porém, a casa de análise ainda projeta o Ibovespa em 150 mil pontos em 2025.
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Devo mudar minha carteira de ações?
Movimentações no portfólio geradas pelo efeito manada ou baseadas apenas no desempenho recente dos ativos, sem considerar os fundamentos, são sempre contraindicados por especialistas. Porém, desta vez, a recomendação é promover mudanças na carteira.
O que muda é a motivação. Siqueira deixa claro que não são as altas recentes da Bolsa que justificam alterações, mas uma mudança de cenário. “Com a melhor do ambiente local e internacional, faz mais sentido alocar mais em renda variável e adicionar ativos com potencial de valorização no mercado local”.
Como o mercado está sempre tentando se antecipar, as ações de setores cíclicos, sensíveis aos juros, voltam a ser alvos das recomendações. Cotações das empresas de varejo, educação e construção civil estão entre as que mais sofreram com a Selic alta. A clareza sobre o fim do ciclo de aperto monetário e a esperança por um ciclo de queda trazem o otimismo de volta. “São setores que tendem a se beneficiar quando há projeções de juros mais baixos’, diz Moreira.
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“O varejo continua descontado. Também gostamos de educação, saúde e transportes. Além disso, estamos olhando mais small caps, visto que muitas large caps já se valorizaram bastante, principalmente no setor financeiro”, analisa Siqueira.
Contudo, a aposta nas empresas com maior potencial de valorização deve ser feita com cautela, recomenda Marcos Moreira: “apesar de começar a olhar para esses setores, a gente tem uma alocação um pouco abaixo do usual, visto que não vemos um cenário de Selic caindo ainda em 2025”.
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Entre os setores cíclicos, Tales Barros, head de renda variável na W1 Capital, diz que o agronegócio merece “atenção especial”, já que dificilmente conseguirá manter o fôlego do primeiro trimestre, o que pode afetar o potencial de valorização das ações.
Enquanto a Selic continua alta, empresas com alavancagem elevada seguem no topo da lista de contraindicações. “Elas vão continuar sendo penalizadas por conta do custo de capital, que vai permanecer alto por mais tempo”, explica Moreira.
Exportadoras ainda “soam como uma oportunidade” para Barros, que gosta da combinação de custo em real com receitas em dólar. Já empresas dos setores de mineração e óleo e gás são vistas por Moreira como detentoras de “uma boa combinação de fundamentos e boa capacidade de geração de caixa”.
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Ainda vale entrar na Bolsa?
Para quem se pergunta se há mais oportunidades no mercado acionário brasileiro, os especialistas garantem que as ações ainda não atingiram o valor que podem. Além da projeção de Ibovespa em 150 mil pontos da Eleven, Barros, da W1, diz que “observamos melhoras significativas nos resultados das empresas neste primeiro trimestre, com crescimento de receita e lucro, demonstrando robustez da economia doméstica”.
O especialista ainda argumenta que ainda há espaço para entrada de investimento estrangeiro, o que beneficia a Bolsa brasileira.
Por outro lado, para quem quer lucrar com investimentos rápidos, o momento não é adequado, segundo Marcos Moreira. Ele defende que o processo de realização de lucros pode se estender, mas investidores com visão de médio a longo prazo têm motivos para considerar os preços atuais como atrativos.