Belém está sendo redesenhada. Às vésperas de sediar a COP30, conferência da ONU sobre mudanças climáticas, a capital paraense vive um dos maiores processos de reestruturação urbana de sua história. Desde 2019, o Governo do Pará já destinou mais de R$ 1,6 bilhão para obras de macrodrenagem em 17 canais que cortam a cidade, beneficiando diretamente mais de 520 mil pessoas com intervenções de drenagem, saneamento, pavimentação, urbanização e mobilidade.
As obras vão além da preparação para o evento. São ações permanentes, concentradas em bairros historicamente afetados por alagamentos, descarte irregular de resíduos e ausência de infraestrutura básica. No total, 13 das 17 frentes que recebem investimentos estão diretamente vinculadas ao legado da conferência climática.
“Essa transformação urbana atende, principalmente, as áreas que mais precisam. Estamos falando de regiões que há décadas sofrem com inundações, ruas sem estrutura e falta de saneamento. A COP30 impulsionou, mas as entregas são para o futuro da cidade”.
Governador Helder Barbalho
Canal da Cipriano Santos: o novo marco da transformação
Um dos marcos mais recentes dessa agenda é a entrega da macrodrenagem do Canal da Cipriano Santos, no bairro da Terra Firme, periferia de Belém. A obra requalificou 1.114 metros de canal com investimento de R$ 112,2 milhões, em parceria com o BNDES. O projeto incluiu drenagem profunda, redes de abastecimento de água e esgotamento sanitário, pavimentação, quatro pontes, sete passarelas, ciclofaixas e urbanização viária.
A intervenção faz parte do sistema de macrodrenagem da Bacia do Tucunduba, uma das maiores da capital. Com essa e as outras entregas que compõem a bacia, mais de 300 mil moradores são beneficiados com a eliminação de pontos críticos de enchentes, valorização imobiliária e maior segurança no deslocamento.
“Essa obra de 1.114 metros traz drenagem, pavimentação, tratamento de água e de esgoto com segurança para a mobilidade urbana da nossa capital. Todas essas obras estão promovendo uma revolução na qualidade de vida da nossa população e serão o principal legado que a COP30 vai nos proporcionar”, destacou a vice-governadora Hana Ghassan, presidente do Comitê Estadual da COP30.
Para os moradores, o impacto é visível. “A gente não joga mais o esgoto de casa direto no canal. Lembro que tive de refazer o piso de casa três vezes, porque, quando o canal enchia, a água invadia minha casa e o meu comércio”, contou o comerciante Jonas Corrêa, de 75 anos.
A dona de casa Rosilda Freitas, 61 anos, relata ganhos para a saúde e o convívio social. “Com a via asfaltada e sem aguaceiro na rua, a gente percorre toda a avenida de forma rápida. Estamos até criando um grupo para caminhar toda tarde.”
Já para o encarregado de obras Manoel Santos, a ciclovia mudou a rotina. “Agora, pedalar por aqui ficou mais fácil e mais seguro. A via está toda sinalizada.”
Obras seguem em 13 canais e novo plano verde é anunciado
O Canal da Cipriano se soma a outras frentes já concluídas, como o Canal do Igarapé Tucunduba, o Canal da Mundurucus, o Canal da Timbó e a primeira fase da requalificação da Gentil. Ao todo, 13 canais seguem em obras: Nova Doca, Nova Tamandaré, Bengui, Marambaia, Vileta, União, Leal Martins, Caraparú, Mártir, segunda etapa da Gentil, Murutucu, Lago Verde e Sapucajuba.
A meta é entregar quase 20 km de áreas reestruturadas até o segundo semestre de 2025, com recursos do Tesouro Estadual e parcerias com o BNDES, Itaipu Binacional e Governo Federal. As intervenções são executadas pela Secretaria de Estado de Obras Públicas (Seop).
Durante a entrega do Canal da Cipriano Santos, o governador anunciou também o Plano de Arborização Urbana de Belém, que prevê o plantio de milhares de árvores em áreas públicas, em parceria com o governo federal e a Prefeitura de Belém.
“A capital da floresta será a cidade mais arborizada do Brasil”, afirmou Helder Barbalho, ao destacar a importância do verde urbano no legado da COP30.”
Tucunduba: de obra parada a símbolo de requalificação
A reestruturação da Bacia do Tucunduba é considerada uma das mais emblemáticas. Iniciada na década de 1990, ficou paralisada por anos e foi retomada a partir de 2019. Hoje, com a entrega do Canal do Igarapé Tucunduba, beneficia cerca de 200 mil moradores dos bairros Guamá, Terra Firme, Canudos e Marco com calçamento, iluminação e saneamento de qualidade.
“Belém é uma cidade cortada por canais. E ao reestruturar essas áreas, estamos corrigindo desigualdades históricas e promovendo justiça urbana”, afirmou a secretária de Cidades e Integração Regional, Fernanda Regina de Pinho Paes.
As obras não apenas promovem melhoria urbana, como também representam uma estratégia concreta de adaptação climática. O Governo Federal também é parceiro. O ministro das Cidades, Jader Filho, anunciou R$ 120 milhões para o prolongamento da Bacia do Tucunduba e a construção de 200 moradias do Minha Casa, Minha Vida para reassentar famílias que vivem em palafitas.