A Procuradoria-Geral da República (PGR) vai esperar o fim dos depoimentos das testemunhas de defesa no processo de tentativa de golpe de Estado para avaliar a possibilidade de pedir uma acareação entre os ex-comandantes do Exército e da Força Área Brasileira (FAB).
O general Marco Antonio Freire Gomes e o tenente-brigadeiro do ar Carlos Baptista Jr. fizeram relatos considerados divergentes sobre a trama para manter o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) no poder no fim de 2022.
Em seu depoimento na segunda-feira (19), o ex-comandante do Exército disse que não deu ordem de prisão a Bolsonaro e não foi enfático sobre o ex-comandante da Marinha, almirante Almir Garnier, ter colocado as tropas à disposição do ex-presidente.
Por sua vez, o ex-chefe da Aeronáutica reafirmou na última quarta-feira (21) ter visto Freire Gomes ameaçando Bolsonaro de prisão e implicou o ex-comandante da Marinha.
Baptista Jr. foi considerado o mais contundente entre as testemunhas e o que mais implicou réus. Na avaliação de defesas consultadas pela CNN, o ex-chefe da Aeronáutica foi firme ao corroborar a delação do ex-ajudante de ordens, tenente-coronel Mauro Cid, e pontos da investigação policial.
A acareação para esclarecer os pontos pode ser pedida pelo procurador-geral da República, Paulo Gonet, ou proposta pelo ministro Alexandre de Moraes, relator do processo.
À CNN, a defesa do ex-comandante da FAB disse que na hipótese de Moraes deferir uma acareação o brigadeiro receberá com “muita tranquilidade”
“O brigadeiro Baptista Jr. está absolutamente tranquilo e à disposição para qualquer ato processual. Seu depoimento é firme, coerente e destituído de qualquer contradição”, informa a nota assinada pelos advogados Rogério Feitosa Mota, Armando Costa e Artur Feitosa Arrais.
Já a defesa do ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, citou que o artigo 229 do código do processo penal prevê que a acareação ocorrerá sempre que as divergências ocorrerem em declarações “sobre fatos ou circunstâncias relevantes”.
“As questões que foram diferentes do brigadeiro e general são pontuais e não afetam a própria acusação, não afetam o teor que está sendo discutido na ação penal”, disse o advogado João Rezende.
Rezende já havia destacado que as divergências são “pontuais” e uma “questão de interpretação”. Para o advogado, o ex-chefe da FAB pode ter interpretado a ênfase do então comandante do Exército, que precisou ser mais enérgico na reunião, como uma ameaça de prisão.
À CNN, o ex-comandante do FAB disse na quarta-feira (21) disse que as divergências estão supervalorizadas.
“Penso que esta diferença está sendo supervalorizada pela imprensa. Não é a parte importante dos nossos depoimentos”, disse à CNN Baptista Júnior.