Há uma distância superior a duas décadas de evolução – exatos 23 anos – entre as cidades brasileiras mais prósperas e as que ocupam a rabeira do ranking de desenvolvimento socioeconômico. Dito de outra forma, os municípios que estavam num baixo patamar evolutivo em 2023 só atingirão um nível elevado em 2046.
Tal disparidade – ou melhor, atraso – foi constatada em um estudo da Federação das Indústrias do Estado do Rio de Janeiro (Firjan). O trabalho avaliou 5.550 municípios, que abrigam 99,96% da população, a partir de dados de 2023. (Veja ranking das cidades neste link.)
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As cidades foram classificadas em quatro grupos por meio de um indicador, o Índice Firjan de Desenvolvimento Municipal (IFDM). Ele varia de 0 a 1,0, sendo maior o desenvolvimento quanto mais próximo de 1,0. A avaliação foi feita com base em três eixos: emprego e renda, saúde e educação.
Os quatro grupos incluem municípios de desenvolvimento “crítico” (os piores, com IFDM entre zero e 0,4), “baixo” (entre 0,4 e 0,6), “moderado” (0,6 e 0,8) e “alto” (0,8 e 1,0).
Moderadas são maioria
De acordo com o levantamento, a maior parcela das cidades brasileiras (48,1% ou 2.669) apresenta um estágio de desenvolvimento moderado. Uma fatia expressiva (42,8% ou 2.376), no entanto, encontra-se na faixa de baixo desenvolvimento. Nos extremos da classificação, 4,6% (256) dos municípios foram considerados de alto desenvolvimento e 4,5% (249) estão num estágio muito baixo, classificado como “crítico”.
Desigualdade
Nas cidades com níveis baixo ou crítico de desenvolvimento, vivem 57 milhões de brasileiros. Em relação aos municípios que estão na ponta oposta do ranking, a desigualdade socioeconômica é expressiva.
Nas localidades com alto desenvolvimento, 44,3% da população em idade ativa possui emprego formal, enquanto nos críticos esse percentual cai para 9,1%. A oferta de profissionais de saúde também reflete essa disparidade: a média é de 2,9 médicos por mil habitantes nos municípios de melhor desempenho, contra apenas 0,4 médico nos que se encontram no fim da fila.
Na educação infantil, 53,7% das crianças de até três anos são atendidas por creches nas cidades bem-avaliadas — acima da meta vigente do Plano Nacional de Educação. Nos piores municípios, esse percentual é inferior à metade: fica em 26,5%.
Melhora do indicador
Em dez anos (entre 2013 e 2023), porém, houve melhora do indicador. Segundo o estudo, a média brasileira do IFDM caiu apenas em 2016. Em todo o período restante, ela cresceu 29,8%. Além disso, 99% dos municípios brasileiros registraram algum nível de avanço no índice geral, enquanto 55 apresentaram retrocesso.
O IFDM Educação teve o maior crescimento (+52,1%), passando de 0,4166 em 2013 — quando era a variável com pior avaliação — para 0,6335 em 2023, tornando-se o componente de melhor desempenho. O IFDM Saúde registrou o segundo maior avanço (+29,8%), aumentando de 0,4626 para 0,6002. Já o IFDM Emprego e Renda foi o que menos evoluiu (+12,1%), mesmo com a forte recuperação no pós-pandemia.
Essa trajetória de desenvolvimento resultou em uma expressiva redução de 87,4% no número de municípios com desenvolvimento crítico, que passou de 1978, em 2013, para 249, em 2023.
Alcançar, no entanto, os patamares mais elevados ainda é um desafio significativo. No mesmo período, o número de cidades classificadas como de alto desenvolvimento aumentou de 13 para 256, evidenciando que os padrões mais avançados de desenvolvimento ainda são restritos a uma parcela limitada dos municípios brasileiros.