São Paulo – Nas palavras da Polícia Civil de São Paulo, o policial militar Carlos Alexandre dos Santos, o Bicho, “é o principal executor e articulador” de uma organização criminosa, no interior do estado, que presta serviços à facção criminosa Comando Vermelho (CV), do Rio de Janeiro.
Preso desde o final de fevereiro deste ano, o PM coordenava um grupo composto por criminosos de carreira, além de Guardas Civis Municipais (GCMs). Parte do bando foi presa na segunda-feira (5/5), durante a Operação Hitman, deflagrada no interior paulista e na região Sul do país.
Além da parceria com a maior organização criminosa fluminense, o grupo chefiado pelo PM também mantinha relações com o Bando do Magrelo, uma forte organização criminosa regional, nascida em Rio Claro, que se opõem ao Primeiro Comando da Capital (PCC) no interior paulista.






Chefe da GCM de Araras foi afastado
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Subcomandante da guarda teve prisão decretada
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Comandante da guarda é investigado por suposto elo com facção carioca
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PM liderava grupo criminoso, diz Polícia Civil
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Policial agia nos bastidores do crime, mesmo estando na ativa
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Guarda dava infirmações para criminosos
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Carlos Alexandre foi preso após a constatação de indícios de seu envolvimento na clonagem de veículos e também com o tráfico de armas, drogas, homicídios encomendados e, inclusive, na arquitetação do assassinato de policiais considerados honestos.
Além da prisão, mandados de busca e apreensão foram cumpridos contra o PM, ainda em fevereiro, incluindo na viatura usada por ele e no armário do batalhão onde estava lotado, em Limeira. No carro de serviço foi apreendido um celular, como consta em relatório da Corregedoria da Corporação, peça chave para a revelação de uma complexa e violenta disputa pelo controle das atividades criminosas na região.
GCM envolvido
Por meio do celular apreendido a Delegacia de Investigações Gerais de Limeira (DIG) teve acesso às conversas do policial militar com criminosos e, também, com outros agentes públicos corruptos, liderados pelo PM no submundo do crime.
O núcleo chefiado pelo cabo foi alvo de uma série de mandados de busca e apreensão, além de prisão, durante a Operação Hitman, na segunda-feira. Um dos alvos presos, em um hotel no Rio Grande do Sul, foi o guarda civil municipal Denis Davi de Lima, de Araras, interior de São Paulo.
Como revelado pelo Metrópoles Daniel Ponessi Alves, comandante de Denis, e o subinspetor Anilton os Santos também estariam envolvidos com o núcleo criminoso do cabo Carlos.
Os três guardas foram afastados preventivamente de suas funções, segundo a Prefeitura de Araras. Deles, porém, somente Denis estava preso até a publicação desta reportagem.
Vida dupla
As investigações da DIG, que seguem em sigilo, afirmam que o PM Carlos Alexandre dos Santos é o “principal executor e articulador da organização criminosa”.
Entre suas condutas, a Polícia Civil destaca homicídios “consumados e tentados”, tráfico de armas e drogas, adulteração de identificadores de veículos, receptação, obstrução da Justiça, corrupção ativa e passiva e roubo de veículos, atribuindo ao PM “a liderança local da organização criminosa armada”.
O policial também agia na linha de frente, ajudando no planejamento e participando de ações para matar rivais e no monitoramento de vítimas, feito por meio do uso de carros clonados.
Para que os veículos “frios” não fossem identificados, ele contava com a ajuda do GCM Denis Davi de Lima.
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Central de Monitoramento
Denis, como mostra a investigação, fazia a ponte entre o crime organizado e o sistema institucional. Para isso, usava o acesso que tinha ao Centro de Operações Integradas (COI), no qual apagava registros de veículos clonados, repassava informações estratégicas ao tráfico de drogas e monitorava — a pedido da organização criminosa — servidores públicos considerados “ameaças”.
As ações do guarda eram acobertadas pelo comandante da GCM de Araras, Daniel Ponessi Alves, como constado após a quebra do sigilo telemático do celular do cabo Carlos. O guarda está atualmente afastado da função.
De acordo com a Polícia Civil, Daniel Ponessi era informado sobre a circulação de veículos clonados e “ao invés de agir” se limitava a “alertar informalmente os envolvidos”.
“[Ele] também autorizou movimentações de viaturas para favorecer o tráfico [de drogas]”, diz trecho de relatório policial.
O outro guarda investigado é o subinspetor Anilton dos Santos, o Tijolo, que recebia propina da organização criminosa, para garantir a fluidez do tráfico e demais ações da célula que prestava serviços ao CV e ao Bando do Magrelo.
O agora ex-comandante da guarda respondia ao caso em liberdade e o subinspetor estava foragido, até a publicação desta reportagem. A defesa dos três GCMs mencionados neste texto não foi localizada. O espaço segue aberto para manifestações.
Roubo de armas
Uma das ações articuladas pelo cabo Carlos Alexandre dos Santos era a venda de armas para o CV. Parte dos itens comercializados, segundo as investigações, era roubada.
Em conversa com um criminoso ligado ao CV, o PM de São Paulo negociou e fechou a venda do arsenal, pertencente a um GCM, antes mesmo de as armas serem roubadas na casa da vítima.
Registros oficiais da Delegacia de Araras, obtidos pelo Metrópoles, mostram que três criminosos invadiram a residência do guarda, na madrugada de 23 novembro do ano passado. O trio acessou o prédio, localizado no centro da cidade, usando um controle remoto e destrancaram o apartamento com uma chave.
Encapuzados, os bandidos ameaçaram o GCM e a esposa dele, para que o cofre onde as armas estavam fosse aberto. O trio roubou fuzis, pistolas, revólveres, munições, além de itens eletrônicos e joias.
A investigação da DIG constatou que esse assalto foi articulado pelo grupo liderado pelo PM Carlos.
“Rota Caipira”
O núcleo ligado ao CV atuava em Limeira e cidades próximas do interior paulista, como Araras, Leme, Conchal e, também, na região sul do país – onde o GCM do interior paulista foi preso, com apoio da Polícia Civil gaúcha.
O objetivo dos criminosos ligados ao CV, como mostram as investigações, era tentar assumir o controle da chamada “Rota Caipira”, usada para o transbordo de armas e, principalmente, da cocaína produzida na Bolívia e Colômbia.
Os PMs e GCMs investigados, como consta em documento da Polícia Civil, estão “alinhados aos interesses expansionistas” da facção fluminense “a fim de alterar o domínio geocriminal da região, que é estratégica para o tráfico de armas e de drogas”.
Prefeitura e PM
A PM afirmou ao Metrópoles, em nota nessa quarta-feira (7/5), ter prestado apoio à Polícia Civil, por meio da Corregedoria da Corporação, no cumprimento de mandados de prisão e busca a apreensão em Araras, “onde foi dado cumprimento ao mandado de prisão de um policial militar”, diz trecho do documento, sem dar detalhes de quem seria o PM.
A Prefeitura de Araras afirmou ao Metrópoles, também por meio de nota, que os três GCMs foram afastados preventivamente de suas funções. O governo municipal acrescentou ter prestado apoio durante a Operação Hitman e disse seguir à disposição para colaborar com a investigação.