São Paulo — O relatório final da Polícia Civil sobre o assassinato de Vitória Regina de Souza, de 17 anos, afirma que o principal suspeito, Maicol Antônio Santos, de 23 anos, tinha fixação na jovem, sugerindo um perfil de “stalker”.
De acordo com o documento, ao qual o Metrópoles teve acesso, a polícia constatou que Maicol guardava no telefone celular diversas fotografias de Vitória. Além disso, na data do desaparecimento da jovem, acompanhou o trajeto de Vitória por meio da conta no Instagram, por publicações que permitiram localizá-la.
No celular de Maicol também havia várias fotografias de outras jovens com características muito semelhantes às de Vitória, além de imagens de facas “absolutamente compatíveis”, de acordo com a polícia, com os ferimentos que a jovem sofreu, descritos em um laudo médico.
“(…) As diversas fotos da vítima e de moças de características semelhantes às dela, sugerindo eventualmente o perfil de ‘stalker’ do agressor, principalmente quando mescla fotos de facas de combate e armas de fogo”, diz trecho do documento assinado pelo delegado Fabio Lopes Cenachi.
O relatório também concluiu que um terceiro material biológico, além do da vítima e principal suspeito, foi encontrado no veículo de Maicol. A amostra, encontrada na parte de trás do banco do carona do carro, é masculina e ainda não foi identificada. “Sendo certo que pertenceria a um indivíduo qualquer, sem vinculação genética a Maicol e Vitória”, diz o documento.
No veículo, foi encontrado o material genético da vítima e do suspeito nos encostos dos bancos frontais, na porção posterior, e no porta-malas. O laudo aponta a possibilidade de que o terceiro perfil biológico seja uma mistura do material genético de Maicol e de Vitória.
Em vista disso, o Ministério Público de São Paulo (MPSP) pediu a instauração de um novo inquérito policial para apurar a possibilidade de participação de mais alguém no crime de ocultação de cadáver. Segundo o promotor Jandir Moura Torres, os novos elementos produzidos no curso da investigação apontam que, em relação apenas a esse crime, o Maicol pode ter tido a participação de terceiras pessoas que ainda não foram identificadas. Não há suspeitos, afirmou Torres.
O delegado Fabio Cenachi explicou que o novo inquérito será instaurado porque havia apenas uma pequena porção do material genético masculino encontrado. “Naquela pequena porção, por si só, não é possível que você associe a participação de um terceiro indivíduo na ocultação do cadáver. Ela é factível pela presença do material”, falou.
Como o caso está sob sigilo de Justiça, o promotor não deu detalhes sobre as questões fáticas que indicam a possibilidade de um terceiro em relação à ocultação do cadáver. “Há elementos que apontam que nesse segundo crime, as condições devem ser melhor apuradas porque, é possível que ele tenha tido a participação de mais uma pessoa para ocultar o cadáver”, disse Torres.
Feminicídio
O Ministério Público de São Paulo (MPSP) ofereceu denúncia contra Maicol Antonio Sales dos Santos por sequestro qualificado, feminicídio qualificado, ocultação de cadáver e fraude processual. Para os promotores, Maicol agiu “com menosprezo à condição de mulher” e a morte foi provocada por meio cruel.

Em entrevista coletiva na manhã desta terça-feira (29/4), o promotor Jandir Moura Torres Neto, que assina o documento, afirmou que Vitória morreu simplesmente por ser mulher.
“A Vitória não fez rigorosamente nada para que se chegasse a esse resultado, ao que aconteceu. Ela foi uma adolescente como outra qualquer, que postava as fotos demonstrando sua felicidade, os momentos que ela estava vivendo, nas redes sociais”, disse.
“A morte foi provocada com meio cruel, qual seja, hemorragia traumática após a submissão de Vitória a toda a situação que fez com que ela morresse por não ceder ao fim libidinoso perseguido pelo denunciado. O feminicídio foi praticado mediante recurso que dificultou a defesa da vítima, já que ela teve a liberdade restrita e permaneceu sob o jugo do denunciado, que empunhava uma faca. Por fim, o feminicídio foi realizado para assegurar a ocultação e impunidade do crime de sequestro”, acrescentam os promotores.
A morte de Vitória
- Vitória Regina de Souza, de 17 anos, foi encontrada assassinada na tarde do dia 5 de março, em uma área rural de Cajamar, na Grande São Paulo. Ela estava desaparecida desde o dia 26 de fevereiro, quando voltava do trabalho.
- Em nota, a Secretaria da Segurança Pública (SSP) afirmou que o corpo estava em avançado estado de decomposição. A família reconheceu o corpo por conta das tatuagens no braço e na perna e um piercing no umbigo.
- Imagens de câmeras de segurança mostram a jovem chegando a um ponto de ônibus no dia 26 de fevereiro e, posteriormente, entrando no transporte público. Antes de entrar no coletivo, a adolescente enviou áudios para uma amiga nos quais relatou a abordagem de homens suspeitos em um carro, enquanto ela estava no ponto de ônibus.
- Nos prints da conversa, a adolescente afirma que outros dois homens estavam no mesmo ponto de ônibus e que lhe causavam medo. Em seguida, ela entra no ônibus e diz que os dois subiram junto com ela no transporte público — e um deles sentou atrás dela.
- Por fim, Vitória desce do transporte público e caminha em direção a sua casa, em uma área rural de Cajamar. No caminho, ela enviou um último áudio para a amiga, dizendo que os dois não haviam descido junto com ela. “Tá de boaça”. Foi o último sinal de Vitória com vida.
Único preso
Maicol está preso desde o dia 8 de março por homicídio qualificado, sequestro e ocultação de cadáver, após confessar a autoria do homicídio. As investigações prosseguem na Delegacia de Cajamar para a conclusão do inquérito policial.
Laudos periciais constataram a presença do sangue de Vitória na casa do suspeito. Também foram encontradas amostras de DNA da vítima no carro dele. Vídeo obtido pelo Metrópoles mostra um trecho do depoimento. Veja:
Ainda de acordo com o documento, ela sofreu lesões fatais e morreu por hemorragia interna e externa.
Confissão
Segundo a confissão de Maicol, ele e Vitória tiveram “um envolvimento” há cerca de um ano e meio, no qual estavam “apenas trocando alguns carinhos”. À época, o suspeito já se relacionava com a atual esposa e, sabendo disso, Vitória teria passado a ameaçá-lo, afirmando que contaria o ocorrido para a companheira de Maicol.
De acordo com a confissão, a adolescente manteve a postura durante todo o período, o que preocupou o suspeito, já que ele temia perder a esposa. Foi na noite de 26 de fevereiro que Maicol esperou por Vitória em um ponto de ônibus, sem saber ao certo se a adolescente desceria naquele local. Quando viu que a jovem não desceu, o homem contou que deixou o ponto e decidiu ir embora.
Porém, segundo ele, por coincidência, o caminho seguido pelos dois é o mesmo e, em determinado trecho, eles se encontraram. Maicol, então, teria chamado Vitória para conversar, a jovem teria topado e entrado no veículo. Já dentro do carro — o Corolla prata –, o homem diz ter pedido para Vitória não falar com a sua esposa, já que, quando a adolescente e Maicol tiveram a relação, ele estava apenas no começo do relacionamento com a atual esposa e, por isso, as ameaças de Vitória nem fariam sentido.
Segundo o investigado, foi neste momento que a adolescente teria se exaltado e o agredido com arranhões no pescoço e no antebraço esquerdo, deixando cicatrizes que, de acordo com ele, já eram perceptíveis na data do primeiro depoimento dado à polícia. Maicol confessou que também se exaltou, pego uma faca na parte lateral do banco do motorista, entre o apoio de braço e o banco, e desferiu dois golpes na jovem.
De acordo com o preso, Vitória não gritou, porque a ação foi muito rápida e a jovem desfaleceu logo após o segundo golpe.
Reconstituição da morte
A reconstituição da morte de Vitória Regina de Souza, de 17 anos, foi realizada nessa quinta-feira (24/4), em Cajamar, na Grande São Paulo. A nova data, definida pela Polícia Civil, foi marcada após a anterior, que seria no dia 10 de abril, ter sido adiada por “razões técnicas”.
Maicol Antônio Santos, de 23 anos, que está preso e é o único indiciado pelo crime até o momento, não irá participar da reconstituição, por causa de uma proibição da Justiça à presença dele na diligência.
A informação sobre a reconstituição foi confirmada pela Secretaria da Segurança Pública. Segundo a pasta, os laudos da investigação ficaram prontos no dia 17 de abril e foram encaminhados às autoridades que atuam no caso.