Em 2024, a Receita Federal apreendeu mais de 2,8 milhões de unidades de cigarros eletrônicos, também conhecidos como pods ou vapes, apenas no território do Distrito Federal. São, em média, 7.825 itens detidos por dia. Apesar de expressamente proibida a comercialização, importação e publicidade de cigarros eletrônicos, é fácil encontrá-los à venda pelo DF. Segundo a Receita Federal, os produtos chegam ao DF pelas mesmas rotas utilizadas pelo tráfico de drogas e de armas.
Este ano, o número de cigarros eletrônicos apreendidos pelo órgão na capital federal já ultrapassa os 700 mil. A reportagem do Metrópoles percorreu duas feiras populares do DF e encontrou, com facilidade, cigarros eletrônicos expostos, à venda, apesar da recente operação deflagrada pela Receita, que teve como alvo a comercialização desses produtos no país.
Ao visitar cerca de uma dezena de lojas, constatou-se que não há qualquer barreira para encontrar os itens. Os cigarros eletrônicos ocupavam bancadas, prateleiras e vitrines. Centenas de unidades visíveis e um leque de variedades de sabores e marcas, sem qualquer tentativa de disfarce ou receio de fiscalização.


Em algumas feiras do DF, os pods estão expostos
Há lojas voltadas para o mercado do item, que é proibido no Brasil
Comerciantes podem ter a loja interditada, além de perder os produtos
De acordo com dados da Receita Federal, em 2024 foram 2.856.225 unidades de vapes apreendidos no DF; em 2025, já foram 748.517 unidades.
Jônio Silveira, auditor-fiscal e chefe substituto da Divisão de Vigilância e Repressão ao Contrabando e Descaminho na 1ª Região Fiscal, explica que as principais rotas de entrada de produtos ilícitos no país é pela fronteira com o Paraguai. “Vem, geralmente, da fronteira do Paraguai. É uma das principais portas de entradas. Além dos portos que temos no Paraná, Rio de Janeiro e São Paulo e a rota pelo Suriname”.
“Como é proibida a comercialização no Brasil, [os vapes] sempre entram por meios clandestinos, então não vão estar registrados em nenhuma nota fiscal ou declaração. Com o monitoramento do fluxo de mercadorias, identificamos cargas suspeitas — que não necessariamente sabemos que terá cigarros eletrônicos — e realizamos as operações”, completa Jônio.
Ele explica, ainda, que os contrabandistas utilizam transportadoras, correios ou veículos particulares para o envio dos produtos. “Usam as mesmas rotas de tráfico de drogas e tráfico de armas”.
Os produtos apreendidos são destruídos por meio de uma empresa terceirizada. “São levados a um depósito e, futuramente, destruídos. A Receita contrata empresas que realizam descarte ecológico e, sob fiscalização de um equipe da receita, os itens são destruídos”, informa Jônio.
Malefícios para a saúde
O pneumologista e professor de medicina na Unieuro, Sérgio Santos, explica que o uso de cigarros eletrônicos pode causar lesão pulmonar aguda; irritação crônica das vias aéreas, favorecendo quadros de bronquite; e doenças cardíacas. “Estudos apontam que os componentes químicos do vape podem, com o tempo, favorecer alterações celulares e contribuir para doenças pulmonares crônicas, e destruição de estruturas nos pulmões”.
Riscos do uso de vapes
- Lesões pulmonares agudas: há casos de lesão pulmonar associada ao uso de vaping, caracterizados por inflamação severa e danos aos alvéolos, que podem levar a uma insuficiência respiratória aguda.
- Inflamação e irritação crônica: exposição contínua aos vapes pode causar irritação crônica das vias aéreas, favorecendo quadros de bronquite e predispondo o usuário a infecções respiratórias.
- Riscos cardiovasculares: a nicotina presente em muitos líquidos promove aumentos na frequência cardíaca e na pressão arterial, contribuindo para o risco de doenças cardíacas.
- Potencial danos a longo prazo: estudos apontam que, mesmo sem os alcatrões presentes no cigarro convencional, os componentes químicos do vape podem, com o tempo, favorecer alterações celulares e contribuir para doenças pulmonares crônicas, e destruição de estruturas nos pulmões.
O especialista ainda explica que a ideia de que o cigarro eletrônico pode ser utilizado como uma forma de interromper o vício em nicotina é uma falácia. “A pesquisa disponível não é conclusiva quanto à sua eficácia isolada para promover a cessação, sendo fundamental o acompanhamento clínico e o uso de métodos comprovados. Sem o suporte adequado, o uso do vape pode simplesmente substituir um produto viciado por outro, mantendo a dependência da nicotina”, completa.
“É fundamental que a população esteja bem informada sobre os riscos associados ao uso do cigarro eletrônico. A busca por métodos seguros e comprovados para cessar o tabagismo não deve ser substituída por soluções que, apesar de aparentarem oferecer menor agressividade, mantêm ou até potencializam a dependência da nicotina e os riscos à saúde”, diz.