Se há quem diga que ter filhos é um ato de altruísmo e sacrifício, a vida financeira pode ser um grande argumento a favor desse ponto. Afinal, os pais precisam lidar com despesas médicas, alimentação, lazer e, claro, gastos com a educação das crianças. Foi pensando na última área que o Tesouro Educa+ foi lançado, em agosto de 2023. Mas o título realmente ajuda os pais a economizar?
O funcionamento é simples: o papel tem uma fase de acumulação, quando os responsáveis vão fazendo aportes até os filhos alcançarem a idade para iniciar a universidade. Depois, o Tesouro paga o valor total acumulado acrescido de juros e variação da inflação em parcelas mensais durante cinco anos.
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André Paiva Ramos, economista e conselheiro do Corecon-SP, diz que o Tesouro Educa+ é “uma ótima alternativa de planejamento financeiro familiar” e destaca que o juro real (além da inflação) atual de 7%: “garante a viabilidade de aportes mensais mais compatíveis com a renda da maior parcela da população, baixo risco de aplicação e resgate conforme a necessidade de recursos para pagar a mensalidade do curso”.
Fazendo as contas
Quem tem um filho recém-nascido tem o tempo jogando a favor. Afinal, pode diluir os aportes mensais por 18 anos. Além de parcelas mais suaves, os juros compostos impulsionarão os rendimentos, já que os primeiros aportes ficarão rendendo IPCA + 7% por muitos anos.
A pesquisa mais recente sobre o custo das mensalidades de cursos superiores é do Instituto Semesp, divulgada em março do ano passado, e indica média de R$ 1.132 na modalidade presencial, excluindo medicina. Considerando a defasagem do dado divulgado há mais de um ano e uma “gordura” para cobrir gastos além da mensalidade, vamos estabelecer R$ 2 mil como renda-alvo.
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Antes de ir às contas, ainda é preciso destacar que o Tesouro Educa+ corrige o dinheiro aplicado pela inflação. Portanto, é provável que a renda gerada não seja de R$ 2 mil, mas um valor maior que garante o mesmo poder de compra desse montante hoje.
No primeiro exemplo, dos pais de filhos recém-nascidos, a economia com o Tesouro Educa+ seria de 55,26%. Pagar uma mensalidade de R$ 2 mil ao longo de cinco anos totaliza R$ 120 mil investidos na faculdade dos jovens. Porém, investir R$ 253,27 por 212 meses no Tesouro Educa+ 2043 garante a mesma renda, mas com aporte total de R$ 53,69 mil.
Para os responsáveis por crianças um pouco mais velhas, de cinco anos, o Tesouro Educa+ 2038 é o mais indicado e o valor dos aportes mensais sobe para R$ 426,82. Mesmo com menos tempo, a economia ainda é grande, de 45,95%, já que o investimento total usando o título público é de R$ 64,87 mil.
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Na faixa dos 10 anos, o número de aportes já cai para “apenas” 92, fazendo com que os pais precisem investir R$ 866,22 todo mês para garantir uma economia de 33,60%.
Com os filhos no ensino médio, na faixa dos 15 anos, restam apenas 32 meses para investir na faculdade e o aporte mensal necessário fica maior do que a renda pretendida. São necessários R$ 2,89 mil todo mês para acumular o suficiente para ter a mesada de R$ 2 mil por cinco anos. Porém, ainda há uma economia de 22,71% nesse cenário, com investimento total de R$ 92,75 mil usando o Tesouro Educa+ 2028.
Como manter aportes regulares?
Se na teoria o investimento vale a pena, na prática, a regularidade se apresenta como a maior dificuldade, especialmente em um cenário macroeconômico adverso. Uma das soluções é “sempre que possível, programar transferências automáticas no mesmo dia do recebimento do salário para evitar o esquecimento ou uso daquele valor para outras coisas”, diz Jeff Patzlaff, especialista em investimentos.
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Gianluca Di Mattina, especialista em investimentos da Hike Capital, ainda recomenda ajustar o valor do aporte quando a renda familiar crescer e criar uma reserva de emergência “robusta” para evitar interrupções nos aportes.
O Tesouro Educa+ pode deixar de ser a melhor opção?
Mudanças significativas no cenário macroeconômico podem colocar outros investimentos como as melhores opções para a faculdade dos filhos, dizem os especialistas. Uma das possibilidades é uma melhora robusta na economia brasileira que cause queda nos juros e na inflação, o que aumentaria o custo de oportunidade de investir no Tesouro Educa+ enquanto fundos de renda variável teriam potencial maior de rendimento, diz Patzlaff.
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Outro cenário “extremo” citado pelo especialista é um aumento do risco fiscal que gere profunda desvalorização de títulos públicos, o que exigiria maior diversificação da carteira.
Di Mattina também cita um contexto de descontrole inflacionário como perigoso para investimentos no Tesouro Educa+. “Se o IPCA se tornar instável ou o governo perder a capacidade de manter a inflação sob controle, o retorno real do título pode ser comprometido”, explica.