A personal trainer e fisiculturista impedida de usar o banheiro feminino da academia onde trabalha, em Recife (PE), após ser confundida com uma pessoa transsexual, é Kely Moraes, 45 anos. Nessa segunda-feira (27/5), ela publicou, nas redes sociais, um vídeo em que parece sendo coagida ao tentar acessar o toalete feminino do estabelecimento.
De acordo com os relatos da profissional de educação física, a situação foi iniciada quando ela pausou um atendimento para usar o banheiro. No entanto, no minuto em que saía do ambiente, Kely foi advertida por uma frequentadora da academia que disse que ela não poderia entrar utilizar aquele banheiro.
Após a situação, ela registrou boletim de ocorrência e expôs ocorrido em seus perfis nas redes sociais. Os relatos de Kely comoveram usuários, que demonstraram apoio e demonstraram indignação.
O caso
Depois de ser abordada, Kely enfrentou a frequentadora da academia. “Eu perguntei por qual motivo não poderia usar o banheiro e ela disse que ali não era o meu lugar, que ali não era banheiro para homem, daí eu entendi o peso da situação”, desabafou.
A discussão continuou e segundo Kely, a cliente da academia afirmou que ela não é uma mulher e por isso devia usar o banheiro localizado no andar de baixo do estabelecimento.
“Eu comecei a me alterar, mas com sabedoria, perguntei se ela me conhecia, se conhecia a minha história para ela falar aquilo e, veja como a cabeça de quem sofre preconceito é, em alguns momentos a gente acha que tem que ter a necessidade de provar o que a gente é, e a gente não precisa disso” relatou, aos prantos.
Enquanto Kely tentava entender a situação, uma segunda mulher, aluna da personal, se aproximou e passou a defendê-la. Nesse momento, a confusão passou a ser filmada. “A minha aluna, que está grávida, ficou muito nervosa e começou a discutir, então um homem chega e, eu não sei se ele é o marido ou familiar da mulher que me abordou, mas ele diz que eu não posso ir ao banheiro”, contou.
Nas imagens, é possível ver quando um homem diz que “há um banheiro lá embaixo para ela”, referindo-se à Kely. “ Não tem um banheiro lá embaixo para ela? Não tem um banheiro?”, gritou o homem.
Os envolvidos se alteraram e então a mulher que defendia Kely pediu para que ela mostrasse seu documento de identificação ao casal. “Mostra a sua identidade, Kely, pra provar a ele também. Tu é ridículo. Ela é mulher”, gritou.
O homem continuou, também gritando, que a personal não podia usar o banheiro. “Não em um banheiro pra ela lá embaixo pra ela”. Kely perguntou para quem era o banheiro e o homem respondeu: “Pra você. Mulher inclusa. É inclusivo lá embaixo.”
“Eu estou impressionada porque em nenhum momento ela titubeou de pedir desculpas ou de achar que estava errada, ela falou com tanta convicção o que eu era que, se brincar, eu mesma poderia acreditar naquilo. As pessoas que estavam ao redor acreditaram e eu tive que me calar, porque eu estava errada, mas eu só queria ir ao banheiro.”
“O pessoal da academia levou a causadora de tudo para uma sala e então ela não estava ali na primeira parte da filmagem, mas depois que eu desafio ele, dizendo que vou entrar no banheiro, e ele tenta me impedir, usando o corpo, o pessoal da academia se mete e a menina sai da sala. No fim do vídeo, quando os mostro, eles continuam com as afirmações”, relembrou.
“Eu não tenho que provar nada pra ninguém. Eu sou uma pessoa digna do meu trabalho. Estudei pra isso. Tô no lugar onde Deus me colocou. E por que eu não posso ir ao banheiro?”, disse Kely na publicação, enquanto chorava.
A personal afirmou que processará o homem e a mulher envolvidos na confusão. Apesar disso, ela afirmou saber que a situação não dará em nada. “E os danos psicológicos? E o constrangimento? Eu, sinceramente, estou envergonhada, não por ser comparada com uma mulher trans, que, para mim, é um elogio, elas são lindas e têm suas histórias e suas guerras, mas envergonhada pela situação”, finalizou.