São Paulo — Um relatório produzido pelo governo de São Paulo avalia que a política tarifária da gestão de Donald Trump nos Estados Unidos produz um ambiente de incertezas que poderá afetar a economia paulista.
Essa perspectiva contradiz aquela defendida pelo próprio governador Tarcísio de Freitas (Republicanos), que já disse que a política de Trump criava “uma janela de oportunidade para o Brasil”.
O texto, publicado como anexo à Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2026, prevê menor atividade global, maior protecionismo e mudanças nos fluxos de mercadorias, o que “produz um ambiente de elevada volatilidade e incertezas que cobram o seu preço nos custos de produção, transporte e, consequentemente, na inflação, além de inibir um crescimento mais sustentado da economia global”.
Em relação ao estado, o relatório entende que, apesar das novas tarifas não incidirem sobre o ICMS, a produção do estado está diretamente associada à exportação de bens para o exterior e à importação de insumos pela indústria paulista. Assim, “flutuações adversas na economia mundial são transmissíveis com intensidade cada vez maior à economia paulista, e, em especial, a sua base industrial”.
“Oportunidade”
No início de abril, após a anuncio da tarifa de 10% para produtos brasileiros por Trump, Tarcísio disse:
“Talvez até pela gente não ser tão relevante em comércio exterior para os Estados Unidos, a gente não foi tão prejudicado em termos de tarifas. Agora eu acho que criou uma grande janela de oportunidade para o Brasil (…) Se a gente souber aproveitar essa janela de oportunidade, a gente pode abrir novos mercados, mercados que estavam fechados para o Brasil. Eu vejo esse tarifaço até como uma oportunidade ou um catalisador do acordo Mercosul-União Europeia”, disse Tarcísio em abril de 2024.
A declaração foi feita durante o evento Bradesco BBI, que teve a presença do ministro da Fazenda, Fernando Haddad (PT). Na ocasião, Tarcísio comentou a nova tributação defendendo que ela poderá favorecer a agroindústria brasileira e ajudar o país a alcançar novos mercados. Durante o evento, o governador também defendeu a reforma orçamentária e criticou políticas assistencialistas do governo federal.
“As pessoas querem prosperar, querem crescer. A agenda assistencialista pura e simples vai perder força a cada dia, porque as pessoas querem crescer. Eu quero caminhar com minha própria perna, quero empreender, quero vencer, quero chegar lá, quero me capacitar, desenvolver meu próprio negócio (…). A agenda assistencial tem que ser uma agenda da emancipação, porque senão ela vira uma agenda de fracasso.”
Oposição ao governo federal
O relatório apresentado pela gestão também analisa a política interna do governo federal e menciona suas projeções de crescimento, aquecimento do mercado de trabalho e baixa taxa de desocupação. Para o texto, esses resultados são apresentados em um “terreno muito instável” em razão de uma “política fiscal expansionista” por parte da gestão Lula.
“No âmbito doméstico, convivemos ainda com pressões inflacionárias provenientes de um mercado de trabalho aquecido, crescimento do rendimento real das famílias e uma política fiscal expansionista por parte do Governo Federal, dificultando a ancoragem das expectativas dos agentes de mercado e, consequentemente, a condução da política monetária por parte do BC. Junta-se a isso uma profunda reforma na tributação de consumo, ainda em andamento e com indefinições quanto ao nível de arrecadação, à distribuição entre os entes federativos, à definição sobre o imposto seletivo etc. Adicionalmente, indicadores de atividade já sugerem menor dinamismo da economia”, diz o texto anexado ao relatório.