O secretário municipal de Educação de Barueri, Celso Furlan, foi exonerado do cargo, nesta sexta-feira (16/5), após ter um áudio com falas capacitistas divulgado nas redes sociais. O caso gerou revolta entre pais de crianças autistas e com deficiência, que fizeram um abaixo-assinado pedindo pela demissão do chefe da pasta.
O áudio registra o momento em que o secretário fala sobre alunos autistas e com deficiência que estudam na rede municipal de ensino da cidade na Grande São Paulo.
A gravação teria sido feita durante uma reunião com diretores de escolas municipais na última terça-feira (13/5). No encontro, o secretário diz para os servidores “não ficarem dando vaga para deficientes”. Segundo ele, os alunos seriam de outras cidades e teriam sido matriculados para Barueri por meio de fraudes cometidas pelos pais.
“Tomem cuidado para não ficar dando vaga para deficientes, porque vocês não toleram mais eles na escola. Eles não são da cidade. Nós tínhamos 700 e poucos deficientes, hoje nós estamos com mais de 3 mil. Sabe por quê? [inaudível] Eles usam comprovante falso, contrato com locação falsa, se brincar até a escritura eles fazem. E nós não podemos ficar com esse problema porque não vai dar para nós atendermos a todos”.
Na sequência, o secretário cita estudantes autistas e cadeirantes, e diz que as mães das crianças estariam colocando os filhos na escola para “se livrar” deles por algumas horas.
“Um garoto com problema de autismo significa 20 alunos a mais. Esse é um caso sério a pensar. Não que eu queira descartar, mas nós temos a casa dos autistas, que fica em nossa Secretaria dos Deficientes. Mas as mães não estão preocupadas com isso. Elas querem se livrar do filho e que nós cuidemos deles. Não é certo”, diz.
“Tem casos de deficientes cadeirantes que não mexe nenhum membro do corpo, nada, todinho torto, todinho deficiente. Não tem condição de aprender nada. A mãe leva [para a escola] sabe por quê? Para ficar livre quatro, cinco horas do filho”.
O que diz o secretário?
- Nesta quinta-feira (15/5), o secretário divulgou uma nota nas redes sociais em que diz que as falas foram tiradas de contexto.
- “Se trata de um recorte. O assunto foi tema de uma reunião de trabalho, onde se discutia a criação de ambientes escolares com mais oportunidades de aprendizado e infraestrutura aos alunos com deficiência. O estudo está em andamento. Barueri é referência em educação inclusiva”, diz a nota.
- Furlan afirma ainda que reconhece a “importância de uma comunicação clara e respeitosa em todos os momentos” e diz que não teve o objetivo de “desrespeitar ou causar qualquer tipo de constrangimento”.
- “Acredito firmemente na valorização da diversidade humana e no respeito à dignidade de cada indivíduo, independentemente de suas características”, afirma a nota.
Moradores da cidade, no entanto, continuaram pedindo pela demissão do secretário e, nesta sexta-feira (16/5), a Prefeitura divulgou nota confirmando a saída de Furlan do cargo. Ainda não há outro nome definido para ocupar a pasta.
“A administração municipal de Barueri lamenta o ocorrido e informa que mantém uma política séria, ética e inclusiva voltada aos cuidados da pessoa com deficiência, seus familiares e cuidadores em nossa cidade”, diz a gestão de Beto Piteri
A nota tece elogios ao trabalho de Furlan na pasta, afirmando que ele “levou o ensino de Barueri a ser premiado e a atingir um nível de excelência”, mas termina anunciando seu desligamento.
Repercussão
O caso gerou reação de parlamentares ligados à pauta da pessoa com deficiência. Deputada estadual paulista e autista, Andrea Werner (PSB) acionou o Ministério Público e pediu a abertura de um inquérito contra a Prefeitura de Barueri. Após a confirmação da demissão, a deputada cobrou que a gestão municipal melhore a inclusão.
“A exoneração do secretário, depois de falas tão discriminatórias, é um primeiro passo de responsabilização, embora as ideias dele já tenham sido propagadas em uma reunião com gestores de toda a rede municipal. Queremos agora que a Prefeitura de Barueri mostre na prática que não apenas tira um secretário após intensa pressão social, mas promove inclusão, de fato, para alunos com deficiência e trata com respeito às famílias atípicas”, diz a parlamentar.
Também autista, o vereador de Barueri Allan Miranda (PSDB) foi outro a se manifestar e disse que Furlan havia passado “todos os limites”. “A gente espera que o próximo secretário da educação tenha sensibilidade, preparo e responsabilidade para lidar com essa pasta”.