A queda nas vendas, perspectivas ruins para o futuro da indústria local e a obrigatoriedade de carros elétricos a partir de 2035. O contexto da indústria automotiva europeia e a ameaça das fabricantes chinesas fez os chefes da Stellantis e da Renault se unirem para mostrar como o ano de 2025 é crítico.
O presidente da Stellantis, John Elkann, e o CEO da Renault, Luca de Meo, deram uma entrevista conjunta ao jornal francês Le Figaro que ressoou como um pelo à União Europeia, com a intenção de que se flexibilize as novas regulações que deixarão os carros mais caros e complexos.
Um dos argumentos é de que a legislação considere a frota de veículos existente e que tenha regras específicas para carros pequenos, que também são os mais baratos e que seriam os mais prejudicados por uma maior complexidade em prol da redução de emissões.
“O que estamos pedindo é uma regulamentação diferenciada para os carros pequenos. Existem muitas regras pensadas para carros maiores e mais caros, o que significa que não conseguimos fabricar carros pequenos com condições de rentabilidade aceitáveis”, explicou de Luca de Meo. Para ele, França, Itália e Espanha, que são os maiores mercados dos carros de entrada, precisam liderar esse esforço regulatório.
As vendas de carros compactos na Europa caiu 22% em 2024. Além disso, o mercado automotivo europeu acumula uma queda de 19% nas vendas desde 2019 e é o único grande bloco que não viu suas vendas voltarem ao patamar pré-Covid até hoje.
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As marcas da Stellantis e da Renault, juntas, respondem por 30% das vendas de carros na Europa. Na entrevista, Luca de Meo ainda criticou as marcas premium europeias, que priorizam a exportação dos seus carros antes das vendas na Europa, mas que teriam sido priorizadas pela legislação.

“(Para eles) a Europa conta, mas a prioridade é a exportação. Nos últimos 20 anos, a sua lógica ditou as regras do mercado. E o resultado é que as normas europeias fazem com que os nossos carros sejam cada vez mais complexos, mais pesados e mais caros — a maioria das pessoas já não os consegue comprar”, disse o chefão da Renault.
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John Elkann, por sua vez, pede menos burocracia e mais visão industrial. “Não queremos ajuda, queremos clareza regulatória, rapidez na tomada de decisões e liberdade para inovar. Na Europa, nos deparamos com Estados que têm pouco espaço de manobra e uma Comissão que luta para causar impacto. Na China, nos EUA e nos países emergentes, estão sendo criadas políticas industriais reais”.
“Se nada for feito, decisões difíceis vão ter de ser tomadas relativamente à base de produção nos próximos três anos”, alertou o presidente da Stellantis. Em outras palavras, o que está em xeque é o funcionamento de fábricas e milhares de empregos.

Na entrevista, os executivos não se colocaram contra as metas climáticas, mas criticaram uma “abordagem ideológica” por parte da Comissão Europeia, baseada em Bruxelas (Bélgica), enquanto os países têm atuação limitada. Recentemente, a Comissão Europeia deu a entender que as fabricantes de automóveis serão avaliadas pelas emissões dos carros vendidos até 2027, e não apenas pelos de 2025, antes de serem estabelecidos critérios que seriam utilizados para multar os fabricantes que não cumprirem as futuras metas de emissões.
Na França, há quem defenda a criação de normas para carros de entrada semelhantes às dos kei cars japoneses, com limitações de tamanho, motor e potência definidas por lei, de forma que estes veículos recebam incentivos fiscais e isenção de algumas normas, seja de emissões, seja de segurança.