Lançado em junho de 2023, o telescópio espacial Euclid terminou em abril a primeira parte do complexo mapeamento do Universo que ele fará, depois de enfrentar percalços por causa de um congelamento inesperado. Mesmo que ainda tenha mais cinco anos de trabalho pela frente, o equipamento já conseguiu revolucionar o conhecimento astronômico.
Entre as descobertas, o telescópio espacial europeu captou pela primeira vez um anel de Einstein, fenômeno raro previsto pela teoria da relatividade geral e que ainda não havia sido comprovado.
A imagem captada mostra a gravidade de uma galáxia deformando a luz que é emitida por outra galáxia atrás dela (foto abaixo).
O registro foi feito ao redor da galáxia NGC 6505, localizada a cerca de 590 milhões de anos-luz. A deformação da luz por influência gravitacional foi tão precisa que resultou em um círculo completo, algo difícil de se observar da Terra, mesmo com instrumentos modernos.
Mapa do Universo em construção
A observação foi feita a partir do ponto Lagrange 2, a 1,5 milhão de quilômetros da Terra. Nesse ponto de equilíbrio gravitacional entre Sol e Terra, o Euclid está criando um mapa tridimensional do Universo em grande escala.
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A primeira etapa do levantamento abrange três regiões do céu. Nelas, o telescópio mediu a forma, o tamanho e a distância de centenas de milhares de galáxias, dados essenciais para entender como a matéria escura influencia a formação da teia cósmica. Com sensibilidade inédita, o telescópio produziu imagens capazes de revelar detalhes invisíveis até mesmo em galáxias bem documentadas.
“Isto demonstra o quão poderosa Euclid é, encontrando coisas novas mesmo em lugares que pensávamos conhecer bem. A descoberta do anel, por exemplo, ocorreu em uma galáxia documentada pela primeira vez em 1884”, diz a cientista Valeria Pettorino, líder do Projeto Euclid, da Agência Espacial Europeia (ESA, na sigla em inglês).
Inteligência artificial e ciência cidadã
Desde a ativação, o Euclid envia cerca de 100 gigabytes de dados por dia. O volume de imagens impossibilita uma análise manual completa, o que levou os cientistas a adotar inteligência artificial para classificar os dados.
A IA é treinada em um esforço conjunto entre 10 mil voluntários que treinaram o algoritmo para ser capaz de catalogar as galáxias encontradas. Até agora já foram 380 mil.
Esse algoritmo aprende com as marcações humanas, que identificam elementos, como braços espirais ou fusões galácticas. As respostas servem para calibrar os modelos computacionais e garantir maior precisão nas próximas análises.
Desafios superados e expectativas
A missão enfrentou obstáculos técnicos no início, como o acúmulo de gelo em componentes ópticos, o que impediu seu funcionamento nos primeiros meses. A equipe da ESA passou semanas recuperando o equipamento antes de ele entrar em ação.
Ao longo de seis anos, o Euclid observará bilhões de galáxias em até 10 bilhões de anos-luz de distância. A expectativa é que o projeto capture imagens de mais de 1,5 bilhão de galáxias, produzindo o maior mapa tridimensional do Universo já feito.
A missão busca respostas sobre a natureza da matéria escura, que, apesar de representar cerca de 27% do Universo e de afetar a rotação das galáxias, não interage com matéria normal. Também tentará entender a energia escura, responsável por acelerar a expansão cósmica e que constitui 68% do Cosmo.
Com esses dados, cientistas poderão testar se a teoria da gravidade de Einstein continua válida em escalas extremas. Um dos objetivos centrais do Euclid é verificar se ajustes no modelo atual são necessários para explicar a expansão acelerada do Universo.
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